20071115

simple underwear for simple men



3:01.
- safadinha.
- hihihi aaai, klaus!


O QUE É ESSA ROUPINHA TRIANGULAR ESCROTA SURGINDO NA FESTA DO NADA?
O QUE É ESSE COWBOY PUNK NO BANHEIRO QUÍMICO?



...E ESSA VOZ???


começo hoje uma linha de produção de cuecas klaus nomi - com uma estampa de gravata preta à frente, borda também preta e, atrás, a célebre frase i'm a simple man. encomendem. não se esqueçam de dizer o tamanho.

20071104

sonho do dia quatorze

foi o terceiro consecutivo.

- por que você não escolhe o césar? irmão dele.

uma colina gramada. carolina e fellipe. não sei dizer se era dia ou noite.
a tamara, também?
à primeira vista aquela porta parecia ser de banheiro, mas não: era a casa de minha tia, onde vivo, e saía direto em meu quarto.

pause nisso.

um quarto de república. como o usual, é tudo muito escuro, as paredes amareladas, cheias de manchas de humidade e mofo. minha cama é a do canto, porque nunca consegui dormir no centro do cômodo. observo de outro canto minha colega a dormir, nua.
o que mais aconteceu naquele quarto?

voltemos à casa de minha tia.
os azulejos da cozinha engordurados, um cheiro pastoso no ar. ali no meio estava uma cobra branca, rija, forte, anelada, com a boca aberta escancarando as presas que gotejavam, a cabeça metida numa gaiola. em desespero, tentei fechar a portinhola para prendê-la ali, embora soubesse que ela não se moveria nunca mais. pus os olhos no canto logo à minha frente, e foi então que a revi.

a menina do vestido branco, ou o que um dia eu presumo que tenha sido essa cor. agora, já era amarelado, rasgado na bainha por ser comprido demais para a pobre criança. o estilo, da primeira década do século vinte. já encontrei-me com ela outras vezes, em sonhos e em vigília. ela se mostrou no mundo material só uma vez, quando eu contava com dez anos de idade. minha prima dormia ao meu lado. apareceu, ali, à porta, e o movimento dos braços dava a impressão de ascensão. o rosto nunca lhe vi: não me deixa, é sempre um borrão. naquela noite, chamou-me a atenção para uma nuvem negra que pairava em cima de minha prima. isto foi mesmo verdade. estava desperta e lúcida. e agora...

ela nunca havia falado comigo. as aparições foram sempre instantâneas, porque não precisavam de mais que isso - eu sabia ao que ela me queria chamar a atenção só por ter se mostrado naqueles milésimos de segundo. mas não desta vez.
ela me avisou, não sei se por palavras, que a cobra soltava um veneno no ar e que eu morreria dentro de pouco. e então ela realmente falou. sua voz era doce, e trazia uma rouquidão por tudo o que havia passado. mas era eu que não percebia ou a língua era estranha demais para ser entendida?

aquela menina...

supliquei-lhe vinte minutos, vinte minutos que fossem! só vinte minutos. ela relutou, eu soube que era porque não estava exatamente em seu poder dar-me vinte minutos, e ia tentar atrasar o máximo possível em meu favor. nisso, ela começou a falar de novo, e eu já sentia o tempo a escorrer. o que foi que ela me disse?
deixei-a e fui em direção ao meu quarto juntar tudo quanto podia para ir-me embora antes que fosse tarde demais. vi o resto das pessoas que moram comigo já de malas prontas, rindo-se, como se fossem viajar.

- e nem para me ajudarem a arrumar as coisas, eu fiquei tentando salvar a todos!
- ah, compreenda, eu entrei em pânico.

foram-se.
ódio e desespero borbulharam. olhava para todos os meus pertences e não sabia o que meter na mala. cega e rapidamente, escolhia uns objetos e tentava manter a noção de tempo, o que ficava mais difícil a cada impressão de instante.
esgotaram-se os vinte minutos. não sei se cheguei a sair da casa.


o céu mudava de cor como se dias passassem em segundos. milênios depois, resolvi retornar ao meu quarto: estava ensanguentado do chão ao teto, e a mala ainda aberta em cima da cama, com mais coisas do que suportava.

agh

ando frustrada.
tudo o que queria era ir-me embora daqui para um lugar desconhecido, com pessoas desconhecidas, onde eu poderia dar passeios anônimos e pintar em paz. toda esta gente me atrapalha a vida. não tenho muita paciência para interações a longo prazo. não tenho estabilidade para aguentar as mesmas caras dia após dia.
eu farto-me, e tão facilmente! a faculdade já não é a mesma: as férias esmagaram tudo. formaram-se os grupinhos e eu não faço parte de nenhum, com orgulho. nos últimos dois meses apareci por lá no máximo dois dias por semana (isso porque só tenho aulas de terça a sexta), sob pretexto de ajudar uma amiga minha que é sozinha aqui na grande cidade de são paulo. claro que, se eu realmente estivesse engajada, conseguiria acordar às seis da manhã para atravessar a cidade, mesmo em dias tenebrochuvosos.
não.
hoje não deu, fui com ela fazer a tatuagem no braço. hoje não deu de novo, o braço dela ficou imobilizado e tive de auxiliá-la em tudo. ah, ontem? ela acordou vomitando e cuidei dela. esta semana... torci o pé na escadinha do metrô, não consigo andar. quarta e quinta? haaa estava com uma tosse que... hmmm, amanhã não sei, a lela quer que...
eu poderia ter dito não, hoje vou ficar em casa, trabalhar e dormir cedo para ir à faculdade amanhã a ela várias vezes que me ligou, mas a culpa por deixá-la sozinha e a minha própria fuga me impediam. e como demorei para aperceber-me que não consigo viver assim, em conjunto... comecei a enlouquecer. se eu não tiver ao menos metade do dia - de preferência a noite e madrugada toda - inteiras para mim, para os meus pensamentos, estudos e coisas que só a mim dizem respeito, sem presenças humanas incômodas, não consigo fazer nada que preste. não consigo me organizar.
(mas a lela tem agora um namorado. já não me sinto com tudo nos ombros caso algo aconteça...)
aqui em casa somos em quatro, contando comigo, e cinco se contarmos a minha "prima" (BEM entre aspas) que vive uns andares abaixo. à noite, ficam todos felizes em frente à tv, conversando e desligando o cérebro de tudo. eu termino meu jantar, tiro a mesa e fecho-me até o dia seguinte. não consigo relaxar. não consigo conviver com aquelas pessoas que, à exceção da minha tia, não fazem o mínimo esforço para me entender.
mas sempre vai ser algo complicado. quem disse, também, que os amigos entendem quando eu sumo por três meses, porque simplesmente tenho de sumir da minha vida?
espero amadurecer. do contrário, jamais vou conseguir um relacionamento e acabar por perder as amizades todas.

20071103

porcos! II

como assim de repente eu olho em volta e todo mundo é palmeirense?

20071102

porcos!

estou cansada de ser tratada como um pedaço de carne. de não poder respirar e sentir ânsia e mesmo assim continuarem. de falta de respeito, de carinho, de consciência de que sou um ser humano. estou cansada de não me ouvirem as necessidades, as dores, os prazeres.



se continuar assim, viro lésbica.

A Navalha perde o corte

apetece-me finalmente dizer tudo o que sentia, tudo o que acontecia dentro de mim quando visitava A Navalha, durante quase três anos. guardava tudo, porque sabia tão bem... e gostava de poder explicar. mas não - as palavras estão engasgadas, talvez com a dor de saber que acabou-se, talvez porque seja tudo tão intenso para a minha capacidade de verbalização.
já percebia o fim próximo. não importa quantas suturas, a um ponto é-se impossível continuar. e foi tudo tão belo que seria injusto de minha parte quaisquer resmungos: só tenho de agradecê-los por me terem conquistado semana após semana, enquanto viveu A Navalha.


eles me trouxeram de volta. resgataram-me de um poço de insensibilidade e deram-me vida outra vez. e isso, podem apostar, jamais será esquecido.

20071101

lembrem-se do cinco de novembro

e então começa novembro.
sempre foi, de longe, o mês mais esquisito do ano, em que tudo morre e apodrece. mas: já não foram setembro e outubro assim? o que devo esperar?
meu pé cura-se lentamente do torção três dias atrás, e o Escaravelho (porque ainda não dei-lhe um nome) já está quase pronto para trocar de peles, deixando a casca escura e renascendo azul dito turquesa.
- não, tia, é semi-permanente, dura muitos e muitos e muitos meses. e posso retocá-la.
ah, assim é de boa, de boassa, pois não?
- é bom que você tenha essa opção, essa idade de querer usar tatuagens... daqui a um tempo não vai querer mais. ah, também você jamais faria um BESOURO permanente num lugar tão visível, não é?

não, tia. ainda bem que sai quando eu morrer.

- não, tia.

20071029

SCARAB

20071028

gatto, bacon, 2pm.

não sei que andei fazendo ultimamente. passei quantos dias fora?
amanhã, um símbolo de renascimento. talvez não dos mais agradáveis, dos mais gostáveis; ele anda pelo deserto com suas seis patas e uma bola de merda, que serve depois de abrigo para os ovos e alimento para as larvas, numa toca debaixo do chão.



quando é tempo, explodem milhões deles rumo a céu aberto e uma nova vida.

20071013

sonic wind

a maior prova de que talvez esteja passando por uma transformação radical não é a mudança da minha caligrafia, nem a aceitação do meu cabelo ondulado e do rodamoinho esquisito que tenho do lado direito da testa, nem a nuvem negra que anda a pairar sobre minha cabeça e a escurecer todo lugar a que vou, nem o fato de ter começado a lavar a louça e as roupas - mas sim um episódio ocorrido agora de pouco, em campinas, casa de minha mãe.
é primavera, deitaram um cobertor sobre a cidade e os insetos voltam ao convívio. havia assistido, ontem, no animal planet, a um documentário fantástico sobre os louva-deus, construído a partir de comparações cômicas (ao menos para mim). uma delas se referia às artes marciais pela maneira como movem-se as patas dianteiras de um louva-deus prestes a atacar: neste momento, fechava um close em um de seus olhos e aparecia ali refletido um china com expressões ameaçadoras. então, a câmera abria de novo e ele atacava um sapo, uma aranha ou outro louva-deus, e eu pensava estes bichos são mesmo incríveis, vieram antes de nós e vão dominar o mundo quando já não estivermos cá. SÃO LINDOS!
eu, que sempre fui acagaçada e extremamente suspeita em relação aos insetos, em destaque os que voam e saltam. eram um pesadelo em vigília, uma ameaça tropical. tinha a plena certeza de que isto havia ficado para trás, por que o medo?, são praticamente inofensivos para nós e tudo pode acabar com uma chinelada certeira. ou... um esborrifo de veneno. mas para quê?
a janela está aberta. ouvi um zumbido no ar e não demorei a perceber o vulto que circulava em torno da lâmpada do abajour. primeiro pensei num mosquito qualquer, mas aquela sombra e aquele zzzz pertenciam a um inseto de porte maior: um besouro. não era gordo, mas compridinho e castanho, um daqueles milhões que nunca vi na vida e que provavelmente não verei outra vez; até que aparentemente ele também apercebeu-se de minha presença e saiu da cúpula do abajour para um leve rolê pelo meu quarto.
talvez o pânico que me invadiu tivesse sido causado por estar minha pele sem proteção alguma (sim, estava nua) e sensações de patas pegajosas a caminhar pelas minhas costas e barriga e seios começaram a me atormentar. fugia dele de um lado para o outro, quase derrubando tudo o que estava à frente, numa cena ridícula. até que ele aquietou-se numa das minhas almofadas e eu percebi que era a única chance de vestir-me, correr à despensa da cozinha e agarrar no veneno.
ele não havia se movido. duas, três borrifadas e não mais que isso - ele atordoou-se. pude ver as antenas a moverem-se em desespero, oscilações incertas e confusas. senti uma pontada forte de arrependimento. finalmente desagarrou-se do tecido e foi-se deitar ao chão atrás da cama. corri para vê-lo caído, esperando os últimos espasmos de agonia do pequeno, mas não estava nada ali; devia ter ido parar debaixo da cama. ainda o ouvia. zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz. zzzzzzzzzzzzzzzz. zzzzzzzzzzzzz...
e o barulho cessou.
acabei com uma vida. mil vezes menor que a minha, mas ainda assim, uma vida. e quando, nestes meus dezoito anos, é que isso foi motivo para comoção? estou seriamente abalada e isto é sério - eu acabei com uma vida. matei desnecessariamente, porque perigo real ele não me oferecia. matei, e esta noite não consigo conceber como é que fiz o mesmo tantas outras vezes e segui em frente como se descartasse ao lixo um objeto de que já não preciso.

20071005

until exposed became my darker side

todos os dias de manhã acordo com esta música na cabeça, meto para tocar todos os dias incontáveis vezes. acalma-me? talvez. li num blog aleatório que a música, dos Bauhaus, não será estranha àqueles que costumam dizer que a tristeza é bela. não sei quanto a isso, mas é uma daquelas milhões de partes minhas espalhadas por este mundo em forma de música. cada pedacinho desses encontrado vem com uma nostalgia incômoda e angustiante, como se fosse algo perdido numa vida passada, apagado do mundo físico, mas que ainda sobrevive nalgum canto de mim; os acessos conscientes são bloqueados, e só a música tem o poder de despertar as lembranças. e que foi feito disso tudo? como posso regressar?

20071002

O Imperador




a carta de tarot.
aquarela, nanquim (tinta-da-china).
apesar de ter ficado dias a estudar e a preparar-me para pintá-la, só sentei para isso no sábado às nove da manhã - e terminei ao domingo pelas três da madrugada. não queria tê-la feito em um dia, de maratona, mas o prazo de entrega mudou e eu já tinha uma viagem de aniversário marcada. penso que saiu um pouco diferente do que eu faria no meu normal, mais colorido e alegre, menos preocupado, talvez. a impressão no geral é que o imperador em si merecia um destaque maior, mas acho que a paisagem à volta - a extensão de seu império, as pedras irregulares que são o seu apoio, os pés já petrificados ao solo - também mostram poder e rigidez.
os símbolos fixos: orbe, cetro, cabeça de carneiro (áries), trono. outros: águia dupla, sol, lírio, pedras e mais outros que nem eu ainda me apercebi.

calcinatio.

20071001

LELA



uma foto que tirei dela hoje, em santos.
dali a pouco ela virou vinte.

ai, pode?

prestar atenção no que me diz a vida às vezes não é má idéia. sabem que comprei um ipod vídeo em portugal há quase exatamente um ano (faltam ainda uns dias) e só consegui começar a usá-lo há menos de mês. cada hora era um motivo diferente: ou porta usb errada, ou falta de porta usb, ou problema com o itunes, com o cabo, tudo. quando finalmente acerto-me com ele, percebo todas as manhas e caprichos da pequena máquina, eis que saio com o cara metido no bolso do casaco às sete da manhã de sexta-feira, desesperada para pegar a aula das oito do outro lado da cidade. foi simples assim - entrei no ônibus, ele lá estava. saí do ônibus, ele já não estava. simples não, ridículo. irônico? considerando que quando cheguei à faculdade a aula das oito havia sido cancelada...
na hora mal acreditei. fiquei tão nervosa pensando que era um ipod VÍDEO meu deus, não podia perdê-lo assim, estupidamente, entrando e saindo de um ônibus. considero a possibilidade de ter sido roubada. e considero, também, não em menos peso, a vontade do próprio ipod. talvez quisesse mudar de dono, não gostava das músicas que punha nele. ou talvez nunca tenha gostado de mim. talvez outra pessoa seja assassinada por causa de um ipod que achou no ônibus um dia e agora deu um vacilo andando nalguma quebrada medonha de são paulo. talvez quem o achou era corretíssimo e não perdeu tempo em entregá-lo no terminal do ônibus!, e eu pensando que ele já foi vendido no mercado negro. fazer o quê; as coisas são assim.
eu não precisava dele. sempre tive aflição de fones de ouvido e parece-me que havia esquecido disso por um tempo. todo o isolamento bruto! o som é forçado para dentro dos ouvidos e abafa todo o mais que acontece. o problema não é nem sentir-me distante das pessoas - para isso não preciso de fones metidos nos tímpanos -, é sentir-me fora de conexão com o mundo em si, ter um dos sentidos vetados e os outros distraídos. confesso que gostava de vendar meus olhos por uma semana só pela experiência, ter de tocar e acariciar as coisas para perceber o que são ao invés de numa lançada de olho achar que sei tudo só porque aquela forma é-me familiar. mas isso é já outra história, não se aplica o cotidiano e envolveria também uma bengala, uma latinha de nescau vazia e uns dias de folga só para uns rolês de metrô.
nunca fiz amigos no ponto de ônibus quando estava ouvindo música.
menos uma coisa com que me preocupar. e eu já não reclamava que o quicktime tomou conta do computador e não me deixava mais ver vídeos no youtube? agora não preciso mais do quicktime! a vida sempre dá um jeito de resolver as coisas, é só perceber. por acaso, no dia anterior ao sumiço do ipod, eu andava na rua com um frio do caraças. tinha acabado de reclamar isso em voz alta quando olhei para o chão e vi um bolo cinza fofo. ah, um cobertor de mendigo. olhei mais de perto. não, tem mangas...
uma blusa masculina da khelf novinha, de... aquele tecido chique de inverno... cashmere, isso. uma blusa masculina da khelf de cashmere, jogada na rua, bem quando eu reclamava de frio, e nenhum homem à volta de quem poderia ter se desprendido.
os céus protegem-me do frio, tomam-me o pagamento sem maiores delongas.
e mais um dos objetos portugueses para o saco. vou lá riscar mais um item da listinha, gente. isto já ficou muito estranho faz um tempo.


observação: o título do post é babaca. do tipo de coisa que aqueles tios com barriga e bigode demasiado grandes falam quando bebem algumas cervejas a mais no aniversário de algum sobrinho, a cara vermelha, os cuspes generosos a cada algumas sílabas.

segunda observação: quem come fruta partindo os pedaços com faca é porque não tem dentes verdadeiros.

20070926

trocando a mobília de lugar

- ...e a minha mãe ligou dizendo por que você não chama a bia aí para vocês experimentarem umas novas posições e...
- !!!!!!!!
- quê? o que que eu... AAAAAAAAAAHEHAHHISDSOIDIWOUAHOIHISEAOHEA


três minutos depois:


- AAAAAAHDSADAHESUAHIUSHAODSHDSUHDUIOSAAAAaaa... bom, do que falávamos?

20070920

21:21

comecei ontem a ver horários duplos novamente. esse hábito tão estranho e involuntário havia começado há uns meses, e por acaso a minha vida estava correndo com uma sorte tremenda - daquele tipo de se desconfiar que seja tudo parte de uma grande piada maior e só estamos à espera do momento certo para o punchline. mas desde o começo de agosto eu não bati mais o olho no relógio e vi lá os números repetidos (algumas vezes acontecia de ser 15:14 e no momento em que pegava o celular ver o número virar para 15), e também por acaso minha vida desabava em alguns aspectos.
as pessoas enlouqueceram, lela, só nós é que permanecemos na sanidade. não é tão ridículo, tão transparente e inacreditável?
meus pés estão pegajosos de pedra sabão. passei o dia com grosas, abri ferimentos nos dedos por conta de escorregões, depois foram 32 lixas e um pó que revestiu minhas narinas e garganta, manchou minhas roupas e embranqueceu meu cabelo. calculo que ainda vou levar três dias inteiros até chegar na etapa de botar fogo e passar a cera (no kidding), eu simplesmente tinha de pegar a maior pedra do monte, não é? mas estou muito feliz, apesar de apertada com o prazo, tenho algo parecido com uma concha e um molusco saindo por baixo. claro que só descobri isso depois de bater na pedra durante outros três dias, tentando perceber alguma forma, tentando acompanhar os movimentos e rachaduras. o que poderia dizer é que, ao invés de uma concha propriamente dita, a pedra possui movimentos de concha. formações espiraladas, bicos, reentrâncias, veios. um trabalho do caraças para lixar, devo dizer. mas a satisfação compensa tudo - nada melhor do que ver-se ali, tão puro como nunca se imaginava, levar matéria à vida!
além disso, há o projeto de releitura das cartas de tarot, no estilo de cada um da classe. eu, como faltei tipo... ham... mais de uma semana quase seguida à faculdade, perdi o dia do sorteio. dizem que foi um momento intenso, quase todos tiraram uma carta que o resto da classe olhou e disse pode crer!. sobraram, para mim e para o lucas, a Rainha de Copas e O Imperador. eu tinha certeza absoluta de que ia tirar a Rainha de Copas. mas não - foi a outra. e talvez tenha mesmo sido melhor. se tivesse puxado a Rainha, corria o risco de acabar sofrendo uma influência demasiado forte, por assim dizer, de alice no país das maravilhas. O Imperador, creio, é um desafio, algo que não faria normalmente, e o significado dele é algo em que se pensar: o equilíbrio entre agressão e empatia, saber ser um líder conciso e forte o suficiente para conquistar a confiança das pessoas e ao mesmo tempo entendê-las em sua individualidade para conseguir intermediar os conflitos que inevitavelmente surgirão com o caminho. a referência para o trabalho vai ser o tarot de marselha, feito a partir de xilogravuras do séc. XVIII, com os símbolos característicos fixos de cada carta. no meu caso, são o trono (que comumente é feito de pedra), o cetro, o orbe, uma cabeça de carneiro, por causa da relação com o signo de áries, e às vezes uma águia.
quando ficar pronto (antes do dia 15, espero) posto aqui.

20070919

FUI ATROPELADA!!!

aconteceu ontem, por volta das oito da noite. ou será que foi às seis? enfim - minha noção de tempo na dada hora estava meio precária, portanto não aconselho muita confiança em relação à passagem das horas.
o local: bairro do ipiranga, quase zona sul de são paulo mas um bocadinho pra lá, caminho para são bernardo do campo e saída para santos. localidade ilustre, em que dom pedro declarou a independência do país (porque tinha diarreia e queria bazar!, diria o J.) às margens do rio. bairro de artérias importantes de são paulo como as avenidas ricardo jaffet e nazaré, de muitas escolas de todos os graus, públicas e particulares, religiosas e laicas, faculdades de medicina, teologia e... artes. residências simpáticas, onde o velho costume dos homens ficarem à porta de casa sem camisa para olhar o movimento (olhar o movimento? que grande besteira, dizem as pessoas de hoje) ainda é mantido com regularidade, estabelecimentos comerciais que, ao invés de terem escrito o que oferecem, fazem pinturas de gosto e técnica duvidosos na parede da casa. as ruas são trançadas com tão pouca lógica que mesmo um paulistano de quarenta anos que nunca saiu de são paulo consegue se perder sem grandes dificuldades. um bairro encantador, em suma.
estávamos nós, isto é, nós eu, zulu, cibele, gui, tiago e celso indo do bar à casa do zulu. ele tinha uma vodka absolut no congelador, e como já estavam todos instigados pela cerveja e cachaça, ir lá acabar com a bebida cremosa era a melhor idéia do mundo naquele momento. o caminho não era longo, a noite não estava tão escura assim; o trânsito quase não existia, a não ser por um carro ou dois.
e foi justamente um desses um ou dois...
eu parei um passo depois da calçada, numa esquina. podia jurar que o carro ia seguir em frente, não dava seta e vinha a uma velocidade considerável. o problema foi que, enquanto esperava o carro passar (o que não ia demorar muito pela rapidez com que vinha), olhei para trás para falar com alguém ou para ver alguma coisa, não sei, calculei o tempo na minha cabeça e simplesmente fui andando. não vinha mais ninguém.
não dei nem meio passo e BAM!, dei de cara com a lateral do carro, que havia diminuído bruscamente a velocidade para virar a esquina, e senti uma leve pressão no meu pé esquerdo. fiquei impressionada como não senti dor quando a roda passou. talvez fosse a bebida.
as pessoas todas entraram em pânico. MEU DEUS, VOCÊ FOI ATROPELADA, E O SEU PÉ, ELE PASSOU PELO SEU PÉ!, ELE PASSOU PELO SEU PÉ? que pelo meu pé o quê, vocês estão loucos, quanto pesa um carro?, olhem, tou andando normalmente, não se preocupem, gente.
bem, só que hoje meu pé acordou dizendo o contrário. dores horríveis, bem mau. não apareci pela faculdade - neste momento meus amigos estão inventando para todos que eu fui uma vítima da violência no trânsito, dos motoristas ensandecidos que circulam por são paulo sem nenhuma consideração pelos pedestres, e aí ficam todos a pensar que eu tou com três costelas, o pé, a clavícula e o fêmur direito quebrados mais uma concussão na lateral do crânio. vão levantar fundos com o meu nome, escrever faixas com a minha foto e uma legenda embaixo, VÍTIMA DA VIOLÊNCIA, e do outro lado a foto do meu veterano renato com a legenda DESAPARECIDO porque trancou o curso e foi-se embora sem avisar ninguém.

aceito flores, livros, drogas e desejos de melhoras.
obrigada.

20070917

triste decisão

nunca pensei que fosse dizer isto, mas: chegou a hora de limpar os meus all-star. quando os comprei eram brancos, de couro, duros e desconfortáveis. o tempo passou, o couro amoleceu e amarelou, a palmilha tomou a forma do meu pé, a sujeira acumulava-se cada vez mais. está bonito assim.
e não que hoje não esteja. adoro os rasgos que abriram nas laterais, adoro a palmilha metade comida por um hamster, adoro a cor indefinida - é cinza? é amarelo? ...meio castanho, talvez? -, adoro as rugas do couro, adoro como consigo discernir entre as manchas e lembrar-me de como elas foram parar lá. por quantos sítos ele passou, quantos sentimentos viveu! é que - já virou mais questão de higiene do que poesia. meus amigos apanharam um medo mortal que eu o encostasse em qualquer coisa além do chão. confesso que eu mesma, quando encosto nele, penso "lavar as mãos, lavar as mãos, não posso esquecer-me de lavar as mãos, VERMES, lavar as mãos!" e sinto um mal-estar ao pensar que na grande maioria das vezes eu não as lavei. o que me consola em partes é que como já não há mais lugar para acumular a sujeira ela agora começou a ser raspada fora conforme ando por aí. ao invés do meu tênis se sujar, ele suja os outros lugares.



mas não se iludam! acham mesmo que eu vou lavá-lo? nah. um paninho com álcool calha bem nestas horas.

the Public Affairs section of the U.S. Embassy in Brazil is pleased to announce...

cheguei ontem de santos, depois de uma viagem mais longa que o comum por causa do trânsito. eu havia tentado dormir, mas o moishe (moisés, em hebraico ou iídiche ou whatever - não importa - o shih tzu p&b da minha tia que tornou-se o filho que ela nunca teve) insistia em deitar-se com o traseiro apoiado em minha perna, que me roçava incomodamente conforme o movimento do carro. minha tia e meu tio, como sempre, em suas extensas dissecações do ambiente e das pessoas, na típica arrogância exatóide que possuem gentes de economia e engenharia, respectivamente. para ela, a vida não passa de dados a serem organizados, tabelados, analisados, comparados e traçados numa curva. para ele, de números, método e programação. desta vez, a discussão era sobre pet shops - ganhos e perdas, no que acertam, no que erram, comentavam a localização, espaço, serviços oferecidos, especializações, materiais, produtos e até mesmo a tosa dos cães. como sempre, faltou pouco para eles de fato pararem numa pet shop, escreverem tudo num papelzinho e dizerem olhe, com isto os seus negócios com certeza vão melhorar, muda tudo, muda que tá tudo errado! eu às vezes me intrometo nas discussões, confesso. faço observações importantes do tipo: há um restaurante mexicano lá na rua da consolação, ele é todo roxo e laranja; antes a gente pensava que era a pbkids, mas depois vimos que chamava-se CHIHUAHUA e acho que ficamos praí três meses com a convicção de que ERA uma pet shop. não é tão comum roxo-e-laranja ser associado a pet shop?
eles ignoram, claro.
de qualquer maneira...
cheguei ao meu quarto, vi que o meu livro sobre invertebrados que eu havia deixado na mesa estava fechado, ao contrário de sempre aberto em moluscos > cefalópodes, e fui procurar a página para continuar meus estudos dos polvos cirrados. ao abrir, que surpresa!, um papel impresso em inglês.

Applications Solicited from Student Leaders for Studies of the United States Institute

ah, ok. comecei a ler.

The Study of the United Stated Institute is an intensive academic program with integrated study tours whose purpose is to provide groups of undergraduate student leaders with a deeper understanding of the United States, while simultaneously enhancing their leadership skills.

um.
quem disse que eu quero passar meses da minha vida, perder aulas na faculdade, para ir aos estados unidos estudar um intensivão sobre... os estados unidos? diz lá nos detalhes que é mesmo uma imersão nos valores e modo de vida americanos, aulas, palestras e leitura todos os dias o dia todo (eles já avisam que o tempo para assuntos pessoais é insignificante), para proficientes em inglês. debates sobre a vida contemporânea lá, questões políticas, sociais, econômicas. haaaaam, certo, eu não desprezo o valor desse tipo de experiência mas não é exatamente o que tou à procura. era bem do gosto de minha tia, pensei, ninguém mais poderia ter deixado isto aqui.

dois.
inclui um programa para desenvolvimento de liderança. eu não acharia nada mais odiável do que ter aulas de liderança. assim como tantos outros assuntos, acredito que é para natural-born-people. natural born leaders. não sei se sou uma, isso são só os outros que podem dizer, e não acho que uma série de métodos tenha a ver com nada. líderes são empáticos e têm muito tato - sabem tratar das pessoas, sabem o que elas querem e como conquistá-las para lutar em sua causa. vá lá, até é possível aprender alguns esquemas, mas se eu não possuo essas qualidades acabo quebrando no meio.

três.
é mais do que sabido aqui em casa que vou tentar um intercâmbio pro ano que vem, talvez, através da própria faculdade e cumprindo carga horária na universidade estrangeira, aproveitando uma grade de cadeiras que meu curso não tem, ou tem, mas naquela picaretagem. há mesmo condições de ir para os estados unidos nessa merda e depois ficar mais seis meses fora? é, acho que não.

quatro.
ao ver a dimensão que isto tomou, fiquei um pouco surpresa com quantos sentimentos de revolta que a simples descoberta desse papel impresso no meio do meu livro de invertebrados causou. família é foda - todo mundo se agride, e os piores cortes são os silenciosos. se me tivesse sido apresentado de outra maneira, com outras intenções, quem sabe até não seria interessante?


*


almoço de domingo na casa da avó. meu pai foi pegar uns copos no armário, estavam engordurados. mãe, o que é isto, quem anda lavando estes copos? ela, ao invés de admitir que lavou com pressa, ou que não enxerga direito porque é cega de um olho, ou que estava com preguiça - ah, isso acontece, os copos engorduram-se no armário. ha, sim, engorduram-se, pois sim, e até aparecem umas marcas de digitais assim, do ar...
acredito.

20070913

mamã




não é muito inteligente mexer com as crias estando a Mãe por perto. quando as feições se retorcem já é tarde demais...

vergonha nacional

faça como eu e um número crescente de blogueiros brasucas: ajude o conteúdo da internet a ficar mais específico e preciso com uma postagem dedicada ao link vergonha nacional. logo, todos os que digitarem vergonha nacional na caixa de busca do google deparar-se-ão com o site do senado brasileiro como primeiro resultado.
acho charmoso.


de: Senhor Marcus Grande Abóbora.

20070910

depois do fim-de-semana

mais um deles. espero sinceramente que seja o último ou, do contrário, vão começar a pensar que eu risco os nomes da lista com um sorriso cruel, ao invés de acrescentá-los com amargura.

20070908

aos indies

vocês pararem com as interninhas ridículas - como fas///

20070907

max ernst - nature at dawn




geralmente não gosto de animações em cima de obras de arte. vi algumas do dalí uma vez: achei uma merda. max ernst a meu ver enriqueceu o surrealismo de maneira insuperável, e este pequeno trabalho ganhou minha simpatia por não ser em nada pretensioso e complementar o que sinto ao olhar para a pintura.

20070906

because these handcuffs hurt too much

está decidido: vou continuar com a minha argola no septo até deixar de sentir que sou presa, confinada, enclausurada, escrava. é isso o que ela significa, principalmente por sua localização e agressividade, embora nunca tenha falado a ninguém. sei que nunca vou me sentir realmente livre. tudo o que eu queria era levar a minha vida em paz do meu jeito, sem fofocas dentre os membros da família, sem gente se machucando porque eu tenho o costume de sair e ficar acordada às madrugadas, sem dedos apontados para me dizer que sou anormal e desajustada só porque trabalho e me organizo de outro modo, sem aguentar humilhações e preconceitos ao jantar. se vocês artistas, pintores, músicos, já têm de saber pintar e tocar antes de entrar para a faculdade, por que vocês fazem faculdade? - ela parece se esquecer que artes e música são matérias só para crianças na escola. não as seguimos ao terceiro colegial, ninguém considera que pode haver um número mínimo de alunos que têm essa vocação, muito menos como coisa séria. como se tudo o que houvesse para aprender não fosse além deste primeiro contato que temos aos seis anos de idade! se notam alguém na classe que desenha melhor, oh!, ele faz os esquemas dos músculos com tanta facilidade, deve ir para biologia. se notam alguém que gosta de escrever, mandam-no para jornalismo sem ao menos perguntar se escreve dissertações ou poesias. artes? isso é para vagabundos. do mesmo jeito que há de se estudar química e todo o resto para entrar em química, os artistas têm de estudar química, todo o resto e mais música/desenho/história da arte por fora, o que acho que dá mais trabalho, não é?, do que simplesmente assistir às aulinhas que fazem parte do currículo escolar brasileiro, do que fazer administração pra tomar os negócios do papai. (apesar de que para mim estudar arte nunca foi realmente estudar.) as pessoas são cegas ao esforço e à coragem que é preciso para entrar numa faculdade de artes. é saber que ninguém vai compreender, ninguém vai achar legal, que todo mundo vai ficar desconcertado e dizer "mas no que você pode trabalhar com isso?", "mas o que você aprende em artes visuais?", achar que é só questão de boa coordenação motora, e pra que sequer uma faculdade, não é só saber desenhar?
vocês artistas não precisam saber de nada, só desenhar.
e é assim, não se pode esperar valorização, mesmo que estudemos uma diversidade até muito além do normal: afinal, é a tradução do mundo, da humanidade e de todas as suas coisas através paixão interna que move cada um. e viver assim, com gente que não entende que não dá pra parar no meio de uma pintura a guache para jantar (a tinta seca, perdem-se as cores na paleta, perde-se o raciocínio, TUDO), que não dá pra forrar o quarto inteiro com plástico para não sujar os móveis perfeitos sob medida, é tão claustrofóbico quanto ainda estar fechada naquelas quatro paredes da sala do colégio ave maria.
e enquanto isso, rebato meu tio:
- artista, pintor de parede, tudo a mesma coisa...
- engenheiro, pedreiro, encanador, tudo a mesma coisa.

perséfone

vidinha anda muito irônica, e eu pareço ter-me esquecido de como se usam as palavras. são velhas, gastas, e não as mesmas de antes. tive três sonhos esta manhã, todos de meia hora, todos angustiantes. tenho faltado à faculdade mais que o aconselhável; mesmo que não apareçam faltas no meu boletim, ficar em casa enquanto tudo acontece não é exatamente o que eu queria, embora tenha o constante problema de não fazer verdadeiramente parte de nada... e só conseguir trabalhar sem pessoas à minha volta. dormir também é outra coisa que enfrento dificuldades se há outra pessoa além de mim no cômodo, enerva, irrita, coça. sou mais confortável sozinha no escuro.
escrevi, acho que segunda-feira, um post sobre recentes re-descobertas que, no fundo, sempre rondaram minha mente - eu é que achava que as devia bloquear em prol do meu lugar nesta sociedade. deletei, republiquei agora de pouco, mas ao ler de novo percebi: pela primeira vez não consegui sair de minha mente, encarnar outra e encarar meu texto como se não fosse meu. foi impossível, não tive idéia alguma, não sei se está bom, se está mau, se o subjetivismo pode formar o contrário daquilo que pretendia. talvez porque seja tão assustadoramente verdadeiro, tão meu, como nada do que escrevi antes...
queria mesmo falar sobre a descoberta de uma maneira compreensível. gastrulação interrompida durante anos, a estranheza ao tornar-se um feto, tão rico e complexo como jamais imaginei, é ainda maior. mesmo porque - até hoje não conheci pessoalmente nenhuma outro ser que tivesse recebido o mesmo chamado, se é que posso dizer assim. não conheci ninguém que tenha ouvido a mesma voz, e os mesmos fascínios.
de qualquer maneira, era impossível escapar. começou a vazar de novo através das tintas. o lápis é falso, traiçoeiro, obriga-me a pensar racionalmente e, uma vez que faço isso, vejo no papel traços mortos, dignos de pena. e então, as cores, as luzes, as sombras - as linhas inanimadas tomam volume, quase babo de prazer ao trabalhar nas texturas. e foi através disso que descobri o que realmente me circulava na cabeça e que vinha tentando renegar desde que deixei de ser criança o suficiente pra aprender que neste mundo as coisas têm de se encaixar em formas e para perceber que seria um caminho tortuoso, porque não podia esperar, não posso esperar, que alguém à minha volta entenda.
acho que na realidade tudo isso voltou com maior força desde que me classificaram, na classe, como perséfone. perséfone, mulher de hades, rainha dos mortos, senhora do inferno. perséfone, que escolheu comer da romã, a fruta dos mortos, e permanecer um período no submundo ao invés de voltar ao olimpo, onde podia ser uma deusa normal...
e eu também comi da romã. só não sei exatamente quando: se ainda criança, porque os pequenos não têm outras doutrinas senão seguir aquilo que os completa; ou se agora, depois de perceber que a semente do fruto sempre esteve algures aqui dentro.

20070903

submundo

por onde andará, hoje, aquele mineiro das gotas de sangue? passei a noite a procurá-lo, a ele e ao aborto - a única coisa que permanece viva na minha memória após tantos anos; após aperceber-me e lembrar-me, justamente esta noite, do que me fazia buscá-lo, mesmo que nunca tivesse sabido se algum dia fui pouco mais que um vulto. onde estará o mineirinho...
nossa diferença de idades nem devia ser tanta, aí para uns cinco anos, no máximo, e ele vivia no mundo do qual eu não ousava fazer parte. porque: é sempre tudo muito triste para ser contado. (mas naquele tempo eu não sabia serem as explosões em meu peito algo, um chamado, uma direção. o esôfago contraía-se, a respiração cessava, o coração a pulsar em todas as extremidades... - não! por que não consigo ser uma pessoal normal, gostar da vida e não da morte? a morte... é... apenas... o princípio..., a morte é castanha..., ali, logo ali, as cortinas a moverem-se numa tarde sem brisa)
escondi-me por detrás de fórmulas matemáticas e equações químicas, agarrando o fio da esperança de encontrar-me ali, nos números, nos elementos, nas leis da física que têm a mania irritante de querer explicar tudo. tentei partir, esqueci-o






agora, depois de trilhar tantos percursos que jamais imaginava, o menos esperado de tudo é ter caminhado em círculos. talvez seja verdade o que dizem os alquimistas, aquilo que está em cima é igual ao que está embaixo, e, depois de muito peregrinar, volto ao ponto de partida para perceber que meu coração nunca realmente saiu de lá. sinto uma gota na nuca: o sangue enegrecido com as dores e os encantos, mais preparado e venoso para voltar aos portões do mundo à volta do qual costumava vagar, espreitando com olhos luminosos os poucos seres que um dia estiveram em meu lugar, outros, nas profundezas, que nunca conseguiram sair e espiar a vida dentre humanos que sentem pavor pelo lado obscuro.
como pude empurrar tudo para um canto esquecido da minha mente, na esperança de abafar os gritos que ninguém mais ouvia? como pude demorar tanto para me dar conta de que não é uma questão de reprimir um lado incompreensível demais para a lógica, não era e nunca foi! afastava-me da essência que sempre esteve incrustrada aqui, por todos os lados, nos olhos e nos tecidos, desde que tenho consciência de que existo. e, se eu tivesse parado para refletir um pouquinho que seja, veria que não havia outro destino - senão este.

20070831

1989 I


pergunto-me se uma roupa de batismo vermelha e branca com riscas no estilo marinheiro afetou a pessoa que sou hoje. há dezoito anos tinha olhos azuis, as bochechas tremelicantes sempre reluzindo com saliva. e já viam-se as olheiras.

20070828

nunca mais me vê os dentes.

tenho nojo. sério nojo. repulsa. talvez não saiba, mas o mínimo de uma pessoa civilizada é demonstrar respeito. você me mete ânsia de vômito. levantei e fui-me embora porque não tenho o costume de gritar (ou quem sabe espancar) alguém com meus amigos adormecidos logo ali, principalmente na casa de um deles, e de qualquer maneira já não aguentava olhar para as suas expressões ridículas insolentes de indignação. perder meu tempo ali, com a sua insuportável presença, e tentar explicar o porquê de ter me ofendido? não, obrigada. a vontade do próximo parece ser a sua carência específica de repertório humano. talvez minhas palavras soem realmente como grunhidos um pouco mais elaborados, por isso resolvi também agir como faço com o volpi, o meu labrador, e mandar sinais corporais negativos que qualquer imbecil conseguiria ler sem nenhuma dificuldade. e bem, se fosse por imbecilidade o fato de você ter ignorado tudo, ainda seria um pouco (mas só um pouco) mais tolerável. nunca mais me vê os dentes. nunca mais me vê a cara.

20070825

fungada


pastel seco sobre papel jornal A3.

20070823

#001




primeira experimentação de aquarela em papel próprio, assim, de verdade. é por isso que arte é elitista: além de toda a carga conceitual, sentimental, intelectual, filosófica, religiosa, científica, mística..., um bloquinho com 18 postais em branco feitos de papel para aquarela 200g/m², 10 x 15cm, custou-me $26.77. a diferença é homérica, mal se vê a água que é absorvida na hora, mas acho que a grande maioria de meus trabalhos aquarelados vão continuar no canson 200g/m² mesmo, torto e cheio de poças.
e não adianta, as cores em foto nunca vão ficar iguais ao original. que hora pro scanner (sim, no singular) da minha faculdade quebrar.

20070822

cenas da última festa à fantasia

devendra banhart (ou george harrison, porque aparentemente só eu e o juliano conhecíamos o devendra naquela faculdade), machado de assis (zulu), lydia (originalmente eu ia de vampira, mas sabem como é deixar as coisas pra última hora, nem achei um lugar que vendesse só os caninos postiços, então virei a mina do beetlejuice), e renato (renato).


quatro da manhã e uns quebrados. viscosidade no chão (antes fosse só cerveja), maquiagem borrada, a típica esculhambação a que estamos fadados todos. sentei-me um bocadinho no banco do átrio para descansar os pés, o salto, o bico e a meia arrastão já incômodos, ao meu lado um machado de assis sem colete nem relógio nem monóculo já quase desmaiado.

- ZULU, SEU CAIPORA, ACORDA AÍ, MEU. - TAU!

nada.


no banco à frente estavam uma caloura de LEM (licenciatura em educação musical) e o namorado.

- ZULU, ZULU, LAZARENTO, OLHA LÁ, AQUELA BIXETE DE LEM QUE SEMPRE PASSA MAL NAS FESTAS! (zulu-machado roncando.) oooolha só, ela tá de boa e já são quatro da manhã, que coisa incr...




- BLLEEEEEEEEEEEEARGHHH GGHHHHHH AGHHHHGHGHHGUUGHHH


- porra, que caralho, ela parecia MESMO de boa... não falo mais nada também. dorme aí, vai, zulu.





20070817

Agosto

minha agenda tornou-se a coletânea de coisas que não fiz. por isso vive hoje aqui, por debaixo dos livros e dos papéis rabiscados. pego nela quando me lembro, para riscar compromissos desfeitos e acrescentar o que realmente foi feito daquele dia. por que ainda insisto em escrever as coisas, sobre as coisas? simplesmente não funciona - o benefício da dúvida é dissipado, as conjecturas e deduções concretizam-se. as pessoas e suas atitudes encaixam-se perfeitamente no prisma, as cenas pulam de violeta para castanho, a tensão, o prazer (será que ele...?), as demonstrações sutis que significam tudo e nada.
antes, era o vazio. como não conhecia nada além o vazio me era suficiente, podia preenchê-lo com matemática e a tabela periódica completa. mas hoje!, ah, hoje, hoje a clareza trabalha com a confusão, novas idéias trazem soluções que trazem mais perguntas, a lucidez anda com a loucura.
já não consigo mais perceber a diferença entre vermelho e laranja, confundo o azul e o verde à distância. não sei de que cor são meus olhos ou minha pele; há hibridez por todos os lados!
o mundo é mais intenso neste último mês. o vento penetra nos ossos e o sol queima os neurônios. os toques causam calafrios na espinha e noutras partes, será que ele...?, os beijos de cumprimento na bochecha aproximam-se cada vez mais da boca.
mas como é que as coisas ficaram assim que não me lembro?


se as palavras traduzissem o que penso e sinto não precisaria pintar. e não é tão bom, isso tudo?

20070811

ciclope castanho das cavernas montanhosas de kukukuku

20070808

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gratificante é estar coberta de tintas, óleos, essências, vernizes, solventes, olhar para as ondas no suporte e perceber que é meio esquizóide a maneira da cor, traço e trama mudarem tanto de um dia para o outro. as aquarelas quase saltam do papel de algodão, os veios e as manchas da água formam vagos resquícios de um mundo longínquo e esquecido...


ando a transpirar betume:
desculpem a monotonia de assunto.

20070806

monday, august 6th, 2007. 10:49am. home. my room.

close to committing murder.

20070804

talvez já fosse tempo

todas as coisas que comprei em portugal estão se estragando pouco a pouco. o anel perdeu-o uma amiga minha, a tiara foi esquartejada pela costureira perto de casa, partiu-se a fivela do cinto de vinil, a blusa do oceanário estragou-a minha empregada com o ferro quente, o casaco creme manchou-se de nanquim. não quero pensar no que vai acontecer ao meu zippo algum dia.
hoje, foi a minha avó que meteu na cândida uma calcinha preta com naipes de baralho, aquela, que eu usei na minha última noite em lisboa, uma das minhas favoritas.
tento, ao máximo, evitar quaisquer pensamentos românticos sobre os recorrentes desastres a que estes objetos são fadados, como eu cada vez pareço mais longe daquela terra e como as pessoas à minha volta estraçalham, sem saberem, os vínculos materializados, as memórias palpáveis que tenho das duas semanas que passei lá.


a calcinha ficou cheia de hematomas e descamações naquela cor castanho-avermelhada que, para mim, é a tonalidade que mais representa a morte.


não vou pensar mais sobre isso.

a bananea pistache

é tudo muito triste para ser contado. é por isso que, nestes anos em que não nos vemos, nunca tive a coragem para escrever-te. percebes - coisas é que não me faltam, mas deitá-las ao papel é ter de confrontar mais uma vez o que levei tanto tempo para apagar de minha cabeça. tens de me desculpar a covardia.
sou estudante de arte agora, prima. talvez vire uma existencialista insuportável de cabelos mais curtos ainda que ouve jazz e promove orgias num quarto negro; nunca se sabe o que está por vir. sabes, a Universidade é só a duas quadras do museu. gosto de perder-me pelos jardins, deitar-me no tapete macio de grama e esperar que não me venham tirar dali à força. penso em todos os momentos que vivi ausente, a desejar uma vida melhor que esta, longe desta. é melancólico todas as noites pousar na almofada a cabeça atordoada com pessoas e lugares que podiam ser (mas não são, não são!). ouve - amaldiçoei já meus ancestrais, pedro álvares cabral, o oceano atlântico todo e até mesmo a separação da pangea. sou uma pessoa frustrada, prima. o que mais desejava era ir-me embora. ser outro alguém noutro sítio, ser um pouco de cada coisa que existe no mundo. deixar tudo para trás não soa nada como abandono, mas sim como um regresso. os dias estão a ficar mais curtos.
apetece-me...
eu e tu, no bosque. estávamos vestidas de branco, corríamos uma da outra por entre as árvores e ríamo-nos. lembras-te?, eu era a pequena suja, tu eras a pequena limpa. talvez porque tua pele sempre foi mais alva que a minha, era o lógico, no nosso raciocínio. deformavas-te ao sol, enchias-te de comichões. a minha pele se manchava, como se a luminosidade revelasse tudo o que havia de errado dentro de mim. pensava, a sério, que eram reflexos de meus pecados por este mundo, e me aterrorizava que alguém os pudesse ler e contar numa olhada mais atenta. pois percebes, prima, que eu por vezes desejava o mal das pessoas, e por vezes levava a cabo pequenas espertezas que me faziam sentir vingada. e estava tudo ali estampado, sem cerimônias.
sonhei com o meu padrinho numa destas noites. tu sabes, ele morreu de aids há alguns anos, já... mal o conheci. de criança vi-o ali doente e magro em sua cama, ele ofereceu-me um doce qualquer, e, quando era menor ainda, um livro de estórias para completar. mas no meu sonho ele estava ali, em pé, saudável, com seus óculos de armação de osso e um belo sorriso à cara. tu me conheces e sabes que nunca fui de acreditar em nada, mas comecei a agir como se meu padrinho beto estivesse ao meu lado todo o tempo, em tudo o que faço - sinto que ele percebe tudo. eu não levo uma vida digna. e, ainda assim, ele sorri para mim.
como está a cidade? as putas continuam nas esquinas, os drogados nas vielas e as polícias nas ruas? não sinto por minha decisão; essa atmosfera já me sufocava, engolia. definhava se tivesse ficado mais um ano. como andam as meninas todas? o cine paradiso ainda funciona?



olha para mim. tenho tudo gravado a fogo na mente, as pessoas, os lugares e todas as vezes que tentei fugir deles. mas é inútil - a cada vez que vou-me embora, deixo um bocado de minha carcaça para trás.

20070803

F-A-G

os tempos andam estranhos. todos os interruptores que aperto (fora os da minha casa) são inúteis ou estão com as lâmpadas queimadas. mete medo. passei uma semana fazendo um projeto de quadrinhos extra, sem vida social e sem pensar em outra coisa - tudo isso por só uma página -, mas depois que ouvi do professor que ia receber a nota máxima, valeu a pena. não só por isso, estou feliz de ter me superado e feito algo de que realmente goste.
a faculdade anda estranha, todo mundo está com o cabelo diferente, aquela grande primeira impressão já começa a esmaecer. surpreendo-me todos os dias com a minha incapacidade de apaixonar-me por pessoas que possam estar comigo (minha vida amorosa sempre foi uma grande piada burlesco-romântica) e de desenhar com lápis. eu sei é pintar. só pegar nos pincéis, na água e na aquarela que as imagens vazam no papel...
não sei por que continuo a roer as unhas. vai ser mais difícil parar agora que minha avó está aqui passando um tempo, e dormindo na minha cama, diga-se de passagem, sob o pretexto de cuidar da minha tia que (já) se recuperou de uma pneumonia. os tempos andam mesmo estranhos. demasiado azar. o metrô não funciona, levo três horas para chegar da faculdade em casa, sem nem saber como porque estou sempre muito alterada. ouço um cd específico mais do que o saudável, talvez, e queria ser capaz de arrancar o pc da tomada por um longo tempo sem sentir pulsar o vazio, que qualquer coisa aqui dentro está oca.
não aguento mais ter um papagaio aos ombros - bia, bia, querida, aonde você vai, aonde você foi, por que você não faz isso depois, pode acender a luz, não me incomoda, olha, aqui tem arroz - eu já disse e sempre digo que não como arroz há anos, avó -, por que você não usou aquele shampoo, vem dormir, queridinha, eu me preocupo com a sua saúde, vem dormir, vem dormir que já são meia-noite, vem dormir, pode acender a luz que não me incomoda, mas você ainda vai ler, já está tarde, vem dormir, vem dormir, você vai ao banheiro, por que tão tarde assim, tem aqui um pouco de arroz, você não qu-





NÃO AVÓ EU NÃO QUERO NENHUMA MERDA DE ARROZ NÃO VOU JANTAR AGORA E NÃO DURMO ANTES DAS DUAS DA MANHÃ VOU LER SIM ATÉ A HORA QUE EU QUISER AQUELE SHAMPOO FEDE EU SEI DESDE CRIANCA QUE A LUZ NÃO TE INCOMODA MAS LAMENTO EU VIVO NO ESCURO NÃO QUERO SAI SAI SAI DAQUI





por que todas as minhas amigas amam todos os vovôs curvados, babões e pequeninos e eu sou acometida com idéias do tipo dar uma coronhada na cabeça da minha avó quando ela ronca de madrugada?

20070731

ciclope castanho das grutas montanhosas de kukukuku



aquarela/papel de origami

20070724

mudei de idéias

aqui vai uma reclamaçãozinha sobre o acidente em congonhas: por causa disso, meu livro surrealism and painting (andré breton) vai demorar, em média, quarenta e duas semanas para chegar.

20070722

achei isto hoje:

e ainda me escrevem nietzsche errado.

martelo & cinzel

o binhas começou - E se a realidade fosse algo fantástico, muito além da matéria crua e da rocha dura? (...) Quem sabe, nos faltem apenas os instrumentos do escultor?
nunca havia pensado nessa metáfora, mas parece servir bem. temos sempre diante de nós um bloco de rocha sólida, aparentemente impenetrável e imutável (e não estou falando só dos obstáculos típicos da vida, mas principalmente também de mistérios universais, todas as verdades que achamos que sabemos e o que não sabemos que não sabemos) - é mesmo demasiado parecido com as minhas aulas de escultura. sabendo escolher os serrotes, cinzéis, grosas, limas e lixas, aproveitar todas as possibilidades da pedra e por onde começar, depois de uns dias aquilo deixa de ser um pedaço de matéria inorgânica para tornar-se o que quisermos. e as possibilidades são infinitas.



mas não adianta de nada ter os instrumentos certos se a princípio tudo o que se consegue visualizar é um bloco de rocha sólida...

20070721

harry potter & a outra dimensão

confesso que, como é desde os onze anos de idade, tou ansiosa pra ler harry potter de novo. que bosta. da última vez, há dois anos, passei duas madrugadas inteiras lendo o half-blood prince em inglês no microsoft word. tinha alucinações, meus olhos secavam e se enterravam nas órbitas, mas eu não parava. não - a integridade de um obsessivo não pode ser ferida, então, se comecei esta ladainha aos onze anos de idade, tenho de terminá-la aos dezoito com a mesma dignidade de antes. ou seja: hesito entre ir agora mesmo comprar a merda do livro ou abrir o arquivo em pdf que acabei de receber. ia ao lançamento na fnac ontem às oito da noite, mas... ah. a noite não estava propensa a programas mais longos que o caminho até a padaria e outro maço de cigarros.
isso porque tinha de estar trabalhando nos cem desenhos de observação que tenho de entregar quando as aulas voltarem. só que mais uma vez, com um golpe de sorte no meu grande rabo, a data de entrega foi adiada e posso aproveitar mais um bocadinho os últimos momentos de férias ociosas, em que fazer testes estúpidos e ler harry potter significa o mundo todo.
enquanto isso...

(17:32) (li) Lord Gabe MacArthur: a cada minuto que vc ficar fora, é um spoiler
(17:32) (li) Lord Gabe MacArthur: snape é o novo diretor de hogwarts
(17:33) (li) Lord Gabe MacArthur: o harry perdeu um braço

o resto não li porque fechei a janela em desespero. mas depois fiquei sabendo que só cinco dentre os muitos que recebi são verdade. o harry perdendo um braço seria empolgante! e todo mundo tem que morrer pra essa merda não ter possibilidade de continuar. a não ser que me apareça a j. k. rowling com harry potter & a outra dimensão.


sim, sou alienada e não vou dizer nada sobre desastre em congonhas, nem morte de acm, nem exposição de cartazes produzidos durante o período de greve da faculdade. já vi e discuti o suficiente sobre estes assuntos, e, lamento imenso, este blog não é sobre a minha decepção com o país em que vivo. o silêncio aqui não tem papel de vista grossa, mesmo eu não tendo talento algum para politizadora e militante das massas oprimidas - eu só acho as notícias tão absurdas que seria redundante ficar apontando e lembrando como estamos na merda. não quer dizer que não tenha opinião sobre nada disso. o silêncio é só o meu cansaço. eu não acho que posso mudar o brasil. algumas pessoas nascem pra isso, vivem, morrem, mas não eu; falo aos eternos deslumbrados com a vida e o mundo, que sabem ser completamente inúteis para mudar as estruturas concretas - concretas: ainda há o objetivo de sensibilizar - das coisas e fascinados demais com tudo para sequer tentar fazê-lo. eu sou do tipo que conta as histórias, fantasia, fabula, pinta e colore, não importa se é feio, se é grotesco, se é desesperador. tudo é sentimento, e belo por isso. sou do tipo que leva a vida como ela me leva, decisões que vêm de impulso e entranhas, nunca nada verdadeiramente racional, sempre apaixonada pelo que me acontece pelo caminho, mas sem realmente saber como cheguei lá. mudar a história não é comigo. prefiro falar de harry potter.

20070717

soslaio


a despeito do que diz O Desenhista, que é uns anos mais novo que eu, não consigo dar ouvidos às auto-críticas sem pensar Mas foda-se, isto é muito mais cheio de sensibilidade do que os rabiscos de diversos colegas de faculdade por aí...
e recorda-me um passado próximo (embora não pareça), em que a angústia surgida ao desenhar, ao fazer cada traço, transparece nas expressões duras e contraídas -- o medo.

20070715

tesourinho

20070714

caderninho da faculdade, I

porque sempre foi impossível só anotar e olhar para o professor.



de h.p. lovecraft. começou com um rabisco tosco na aula de mídia I; feito com canetas esferográficas pilot 0.5, uma preta e outra vermelha, e uma espécie de giz laranja.


impressões digitais. desenhei salvador dalí no indicador esquerdo e carimbei a aula de semiótica inteira - afinal, são signos indexicais E icônicos.

20070713

on set

a uma dada hora o tédio vence os limites. nem as conversas com as pessoas ao lado, todas novas e também tão sozinhas, distraem a impaciência de quem acordou às cinco, quatro da manhã só para estar pontualmente às sete no edifício ondulado que possui uma sociedade própria - os copanenses não têm de pisar na rua nem para emergências podológicas.
mas as galerias criam uma corrente de ar que percorre às voltas todos os corredores, e as cadeiras de plástico foram se amontoando num beco onde não havia silvos nos ouvidos. entre dormidelas, cochilos e roncos seguidos de um despertar assustado, só eu me recusei a sequer fechar os olhos por mais de dois segundos para sentir que estava realmente precisando de sono. ao invés disso, puxei uma folha, um lápis 2b, uma caneta esferográfica preta pilot 0.5 e uma lapiseira infantil de pontas coloridas. ela encostada ali era uma daquelas que não se sabe se é demasiado nova ou demasiado velha, e dormia tão tranquila...






disse a ela que não podia dá-lo porque ia usar na faculdade, mas era só o ciuminho com tudo o que faço para mim. ela estava dormindo...
ao fim das filmagens, pediu-me se podia pegar outra vez o desenho. só para mostrar ao pai. abri minha mochila contente por ver que ela tinha mesmo gostado. pegou a folha, olhou ainda um instante e virou ao pai.

- sie *(@#&(*& YE*(W8e2#@¨ *&(!¨ EWYEY*)(@ @*( )_(_))()&*)(#@¨ #*@¨# (@)*@)$*@ *_REUQU() EJJU)U@)(.

e ele respondeu:
- &$#&UEWO2980 YDwW)(EU #@*(&(#@& YR*(EWYE *(@&(#@!

oh deus, são alemães!

acho que se não tivesse mudado de idéias e oferecido-lhe o desenho, ia sentir um mal estar e qualquer coisa incompleta toda vez que olhasse para ela, dormindo encolhida em seu casaco vermelho desbotado, os cabelos de ouro cinzento caindo pelos ombros, o rosto sereno e os olhos fechados que na hora não havia como ter percebido serem tão azuis. talvez nunca mais a veja, mas ela, ao menos, sempre que encontrar por acaso o pedaço de sulfite vai-se lembrar de que alguém a viu - e encantou-se.





(ha é, como foi? sussa. minissérie de treze capítulos, alice - nome provisório, sim, inspirado em alice no país das maravilhas, quem diria?, mas com uma história urbana e caótica. vai ao ar ano que vem pela hbo, o que filmamos foi o piloto. diverti-me o dia inteiro com os novos colegas feitos na hora, e dois deles não só sabem quem são os mars volta como foram ao show de 2004. malditos. figurante é meio como um rebanho, a pastora indica-nos o caminho, os cães nos cercam, latem e botam uma pressão, fala mais baixo! sai daí, idiota, vai aparecer no quadro! fiz duas brilhantes atuações, uma em que paro e vejo a vitrine do brechó, e outra em que acendo/fumo/fumo/apago o cigarro - foram quatro takes, não sei qual vão usar. e que acabou por ser o menos relevante das doze horas que passei com o pessoal da produção: os setenta reais de cachê. quase que fui-me embora sem receber, juro. mas claro que fiquei feliz com o dinheiro, e saí de rolê com os amigos logo depois pra já gastar uma cota.)

av. paulista, 01.00

- MOÇA...
- o quê?
- olha... a gente pode falar com você um pouquinho?
- ...desculpa, tenho de ir para casa!
- mas é só um minutinho!
- são uma da manhã, sério mesmo, tenho de ir, tão me esperando.
- não! ouve só, ...que isso, que isso, tá com pressa por quê?, não precisa!





(gelo no estômago)




- eu tenho de...
- não precisa se apressar não, senão a gente vai ter que te machucar. ouve só, se liga na idéia, a gente só quer dinheiro! e o celular.




(as moedas no bolso!)



- olha, eu só tenho isto.
- e o celular?
- não tenho celular!
- valeu então, tia.




NENHUM NÓIA CAGÃO ME ROUBA A MERDA DO CELULAR, SANGUE BOM! TÃO TIRANDO? VÃO DAR O RABO PRA COMPRAR PEDRA, CASQUEROS DO CARALHO!
tão ligeiros, eles se acham, que nem perceberam a mochila de 20kg que eu carregava nas costas.

20070710

precisam-se de paulistanos mudernos

primeira coisa a considerar: a plastic dreams, balada ali quase na esquina da rua da consolação com a al. franca, é uma merda. ao menos a entrada valia também como consumação, caso contrário teria me recusado a pisar lá dentro por $10. oh well, nunca gostei de baladas na vida, acho um bocado individualista, mas era a banda da amiga do pedrinho, então vamos lá. a polý também estava presente e tínhamos todos tomado chuva. o cabelo dela, com quinze descolorações e mais históricos de tinturas que o meu, permaneceu resplandescente e secou de uma maneira tão bela que parecia arranjado. o meu claro que tomou vida própria.


esta é das minhas fotos preferidas da noite. só não me perguntem o nome da banda.

convém aqui abrir um parênteses:

(não, vocês não têm idéia de como realmente era a plastic dreams. é quase um clube GLS, mas sem ninguém nunca tê-lo definido - os gays aparecem por lá instintivamente. a música saltava de grandes sucessos pop para uns eletrônicos medíocres. tomei uma tequila, fui ao banheiro unisex mijar numa cabine sem porta. uma mulher-onça subiu no palco à frente do d
j e rebolava-se toda, os poucos homens heteros se aglomerando aos pés dela, até que um foi puxado para dançar também. ok, era um showzinho, movimentos obscenos eram mais do que esperados; ela enlaçava as pernas no pescoço dele e simulava sexo oral em diversas posições, as bichas gritando AAAAI QUE NOOOJO, ela o deitou no chão, tirou-lhe a camisa...



...e começou a masturbá-lo. até arrancou as cuecas, mas ele foi persistente e, cobrindo ali a região nobre, desceu do palco - pra tristeza dos gays, que até tinham começado a se empolgar abstraindo-se da presença da mulher.)

bem, depois de mostrar os seios tatuados, o show da mulher-onça acabou-se e nós fomos dançar a melhor música da noite até então, i can't get you out of my head, kylie minogue. távamos já meio bêbados e nem percebemos quando um tipo nos abordou. ele gritou um HEY, VOCÊS, e nós, NÓS?, sim, venham cá um instantinho. eu disse: porra, justo na melhor música da noite? vê se não demora, hein. quié?

- A HBO vai gravar uma série televisiva aqui no Brasil em pareceria com a Rede Globo, vocês não estariam interessados em ser figurantes, por acaso...? Mas assim, não é só fazer parte de um bolinho, são papéis importantes, com close de rosto e tudo. Preciso só do nome, telefone e uma foto de vocês (que vamos bater agora).
- haaaa oook, hehehe, HBO, pois não? (e se for um golpe para tirarem os meus rins depois de anestesiada, toda essa parada de mercado negro, vou acordar numa banheira cheia de gelo e com talhos na altura da cintura, percebo logo! ou então vão me jogar numa sala com uma cama e uma câmera e filmar o meu estupro! mas e se for realmente a hbo... no brasil? por que no brasil? hmmm, muito esquisito pra ser verdade, e por que chamariam-me a mim?) ok, meu nome é beatriz oliveira, meu celular... é de campinas, não há problema?, o código é 19 e...

entrou uma mulher alta, esguia, toda elegante com uma câmera fotográfica profissional na mão e tirou-me uma foto de frente, os cabelos nem quero saber como saíram, depois da geração espontânea causada pela chuva. passei a duvidar um bocadinho menos. afinal, o que poderiam fazer com um nome, um número de telefone e uma foto?




mas hoje, quase dois meses depois, vi um número desconhecido no visor do celular. eu não atendo números desconhecidos - nunca. já basta a vez em que me ligaram de dentro da prisão. olhei de novo pro aparelho vibrando...

- alô.
- beatriz? é o vitor, aqui da produção da HBO, eu peguei seu nome, telefone e foto na plastic dreams, lembra-se?
- HAAAA SIIIIM...

resumindo: quinta-feira, dia 12, das 6 às 6, com direito a comida à vontade e o melhor de tudo - CACHÊ! vou ser uma jovem paulistana muderna que compra roupas em brechó. e aparentemente só ligaram a mim, meus amigos não vão.

chupem!!! e desejem-me sorte.




06:44AM

drácula vai dormir, antes que fique mais claro.

20070707

pedra sem pudores

e quando percebi já estava sozinha de novo, minha amiga foi-se na bicicleta com ele, como passageira, depois de uma rápida volta na praia à noite. medinhos ocasionais. santos!, estamos em santos!, dissemos o dia inteiro. mal nos incomodava a praia cheia, sentávamos nos bancos e as crianças gritavam, foda-se, é a praia, é santos. mas voltou tudo ao normal, sozinha pelas ruas de novo, aqui ninguém nunca está comigo. voltar para casa? ainda eram onze e meia, tinha levado a chave para justamente poder chegar mais tarde e não ter de falar alterada com a avó (aquela lá é bem capaz de me esperar acordada, todas as séries televisivas fazem-lhe mal, sabem). sem condições. fui andando, fumei um cigarro. quando cheguei quase na esquina do estrela-ouro, percebi que ainda não se passara muito desde as onze e meia, e virei subitamente a esquina em direção ao rockabilly.
pedi uma bohemia long neck e um hambúrguer com rúcula, tomate seco e mussarela de búfala. havia também uma tv de plasma widescreen, primeiro futebol, depois jornal da noite. às vezes é bom fazer as coisas sem companhia, pensei. os caras atrás de mim falavam de posições sexuais. mas quando eu vou comer uma mina... a cerveja deu uma lombradinha a mais, pensei que naquele instante minha amiga já devia estar na casa dele, e parei por aí.
mas a jukebox começou com bohemian rhapsody, e eu senti que aquele devia ser o grande auge da minha vida. ou o fundo do poço.

20070704

auf wiedersehen

vou-me embora para a baixada santista, a ilha do fim de são paulo, a beira do continente, onde tudo é mais barato pelos contrabandos no porto, vende-se erva fresca à calçada da praia e as horas passam mais devagar!

faz um bocadinho de mal à garganta, mas quem se importa?

20070702

what will you do when your suntan fades?

as pessoas passam a ser opacas com uma palavra errada, um gesto errado, o conjunto disso tudo ou de outra coisa. não importa, é inevitável. três ou quatro meses, isso sem contar o período em que estive longe, já foi o suficiente para acabar com toda a vivacidade colorida que me despertava tudo:
aquela é muito folgadinha, aquele sempre força demais nas brincadeiras, aquele é meio bobo, aquela é insegura e posa de extrovertida, aquele é virgem, aquela tem uma semi-rivalidade comigo sabe lá deus por quê, aquele só mente e se calhar está meio caído por mim, aquele é uma grande criança hiperativa, aquele é meio perdido, aquela é completamente sem-noção, aquele é demasiado ingênuo, aquele experimentou coca comigo e virou nóia na semana seguinte, aquele é um tarado irritante, aquele é um entrão (literalmente, meu traseiro reclama), aquele é preguiçoso e drama king, aquele é nervosinho e waaay too passional, aquela é meio porca, aquele, ah!, aquele com certeza não toma banho, aquele se acha todo cool e muderno e artista porque os pais usam drogas, aquela não se depila, aqueles todos não sabem desenhar, aquele é manipulador, aquela é individualista, aquele é frustrado, aquela é infantil ao extremo (inclusive no traço de desenho e gostos em geral), aquele é singelo e todo perdido num relacionamento com alguém de quem não gosta mais e ainda não se apercebeu, aquela é muito feia e fala de um jeito bizarro que eu não entendo, aquele não sabe disfarçar que me olha de cima a baixo, aquela acho que é muda porque nunca a vi dizer palavra alguma...
depois de escrever isso eu reclamo que sim, (quase) todos são de meu interesse, gosto igualmente deles mesmo criticando - mas cada vez mais me dou conta de como as pessoas me cansam facilmente, irritam-me, e as viagens todas que faço são no intuito de trocar tudo pra não enjoar seriamente de nada. conseguiria eu dividir a cama com outra pessoa durante o resto da minha vida, quando até a sua respiração, a sua presença tornar-se-iam insuportavelmente incômodas, como acontece às pessoas da minha vida? há tempos que ninguém concreto me faz brilhar os olhos.
às vezes sinto que nasci pra morrer sozinha, e esta idéia não me desagrada.

20070626

NO SEX... até casar!

passei grande parte da minha madrugada lendo depoimentos de cristãos nesta comunidade do orkut. uma delícia, recheada de gente que se acha a última fruta da árvore por nunca ter beijado na boca, discussões intermináveis sobre o que é pecado e o que não é com justificativas trabalhadas a partir de um raciocínio deturpado, ou nenhum.
mas nem tudo é riso - há uma preocupação muito séria sobre sexo oral, masturbação e polução noturna serem pecado. quanto ao primeiro, apesar da maioria feminina argumentar que é nojento e coisa de homossexuais, só é permitido se o homem não ejacular na boca da mulher E usar preservativo. (penso cá comigo onde estará a camisinha mencionada na bíblia.) tudo depois do casamento, é óbvio, como diz o título da comunidade. sobre masturbação alguns ficam na dúvida, os que têm certeza de que é sim pecado dizem que os menos radicais são praticantes viciados, e tudo se resume a um glorioso questionamento espiritual: como posso me masturbar com jesus me olhando? já a polução noturna é um assunto delicado, a grande maioria acredita que, se é precedido de sonhos eróticos, é indução do demônio ao pecado da carne e devemos orar muito e jejuar para livrarmo-nos disso. se não, tudo bem, faz parte do mecanismo biológico humano, perfeitamente explicável pela ciência (cena: um cristão fervoroso com as cuecas meladas logo após acordar, num surto de culpa por não se lembrar do que sonhou).
motel? nem pensar, é lugar de prostitutas e adúlteros, cheio de satanás por todos os lados, a transpirar por todos os poros. inclusive, mais de duas pessoas atestaram vivamente que conheceram casais cristãos que resolveram dar essa perigosa quebra na rotina e acabaram com o casamento destroçado por conversões súbitas ao homossexualismo e traições de várias ordens. o que não deixa dúvidas - a causa direta, sem nenhuma discussão, é o quarto do motel. ironicamente, rolam várias tretas; gente se acusando de falso puritanismo, perversão, afirmando verdades do tipo tenho certeza de que VOCÊ não conseguiria ficar três anos sem beijar ninguém, isso é inveja da minha pureza.
só é pena os sempre presentes erros de português e concordância, depois de um tempo cansam os olhos, assim como os textos todos coloridos e em caixa alta. mas garanto, é diversão plena! e divina!

20070623

IA na folha

..............................................ai, que saudadinhas!
..............olhem uma cabeça de juliano ali logo acima da caixa de correio.



fez ontem duas semanas que estou em campinas, de volta aos Mundos Antigos, e três que minha faculdade entrou em greve; nem parece que cursei quase um semestre, a sensação é de nunca ter passado no vestibular. a reitoria da usp foi desocupada esta semana, e minha faculdade, ocupada pelos alunos. os professores furaram o movimento porque já conseguiram o que queriam (aumento salarial), deixando 50 e poucos estudantes ávidos por revolução do meu pequenino instituto espumando de raiva. vagabundos, ouço sempre sobre eles. mamando nas tetas do estado, filhinhos de papai que tiram dinheiro do feijão do preto pobre e ainda reclamam. como nunca realmente entendi qual o poder dessa arrebatadora paixão, fico de fora. não tenho sequer opinião sobre isso tudo, e porque escolho não ter - participei de assembléias, votações, discussões. protestos? nenhum. e pergunto-me se meus colegas sabem de fato pelo que estão lutando, quais as consequências disso... ou se saem gritando o que ouvem pelos corredores da faculdade.
conseguiram alguma notoriedade, e admiro a insistência. admiro quem leva a filha de um ano e pouco para dormir numa barraca na Sala Fúrio (a sério, lara, qualquer mãe pensaria duas vezes), admiro o diretório acadêmico por todas as providências e iniciativas tomadas, todo o tempo perdido com cartazes que serão rasgados (E AGORA, JOSÉ?), todas as aulas perdidas que não serão repostas devidamente. sempre há de se sacrificar algo, eu só espero que haja ali uma recompensa que justifique tanto incômodo. por enquanto, só os professores tomaram leitinho.
para não dizer que não tenho nem a mínima pendência, sou mais a favor da greve - mas só para conseguir terminar meu projeto de quadrinhos a tempo e os cem desenhos de observação, que até agora não passam de três. vida longa ao instituto de artes da unesp, e que a cidade de são paulo se abra revelando o exuberante caminho que nos conduzirá do ipiranga à barra funda. enquanto isso, minha avó insiste em meter o bedelho na minha vida e fica ligando de outro código urbano desesperada porque, pra ela, se deu no telejornal que os estudantes da usp desocuparam a reitoria, então quer dizer que automaticamente um campus específico da unesp, que não tem em absoluto nada que ver, vai voltar às aulas na mesma hora sem aviso prévio. nem pra ligar à universidade, que nem da outra vez...!

20070621

como a preguiça e o relapso podem afetar positivamente a linha de trabalho, II

.......................... ih, fodeu.

apesar de ter cortado fora algumas partes quando tirei a foto, por alguma estranha coincidência a figura do centro tem as mesmas dimensões que no original; só a resolução que tá escrotíssima. aquarela e nanquim, sobre papel não adequado a aquarela. como dá pra reparar ainda não a terminei, em princípio por um ataque de isto-podia-ficar-muito-melhor-se-eu-realmente-soubesse-fazer-direito, ai odeio muito essas pernas dela, e esta parede?, só amarela? (preguiça), e agora por imprevistos de grave ordem - pois, senhores, eu, tentando alcançar um livro na prateleira mais alta, acidentalmente derrubei todos os outros ao lado, que resolveram cair justamente em cima da minha... tampa de case de cds virgens transmutada em pote para água suja de aquarela (devia haver uma palavra pra isto)! e claro que a água caiu em todas as minhas aquarelas que sempre tão aqui por cima E alguns desenhos. claro que borrou tudo, e claro que eu entrei em desespero. vêem-se ali borrões por todos os lados, sendo o mais grave no soon-to-be chão. (aquele risco que sai do pé da taça desconsiderem, foi de um acidente anterior: derrubei o pincel em cima.)
eu poderia chorar, poderia gritar e cuspir em tudo, ficar revoltadinha e falar que minha vida é uma merda. mas não! tal pollyanna do terceiro mundo, vejo a água suja como uma bela oportunidade de modificar (e melhorar, espero) meu trabalho - vou ser obrigada a inventar remendos para os borrões todos.
vou assim, aproveitando as eventuais pequenas tragédias, improvisando nos buracos da melodia, por vezes nasce o que não se era de esperar... e por acaso pode ser o que andava à procura.

20070618

como a preguiça e o relapso podem afetar positivamente a linha de trabalho, I

............................... momentos antes da tragédia.



o que mais gosto nisto por enquanto é a garrafa.

20070617

4.20am

depois de todo mundo se deitar, fui ontem à sala carregando minha bolsa de dálmata (que até hoje não sei se é verdadeira ou não), como é de praxe das minhas madrugadas enquanto estou hospedada em goma de mamãe. dixavêitor, seda, destrancar o cadeado, sempre a garagem medonha e a praça mal-iluminada à frente, os barulhos da polícia ao longe e os sussurros da noite. fui acometida de uma paranóia infalível, que me faz encarar fixamente a porta por detrás do plástico do jipe toda vez, enquanto aguço os ouvidos para perceber algum barulho vindo lá de dentro, ou pior - lá de fora. demorei-me quanto mais meu medo permitiu, e voltei para ver qualquer coisa na televisão.
acendi um cigarro, apertei o botão, haaa está na warner e... foda-se, full house en español? DONDE ESTÁN LAS BOTITAS DE LOS NIÑOS? LAS BOTIIIITAS OH NO ESTO ES UNA TRAGEDIA! LAAAAS BOTIIIIITAAAAAS! QUIÉN ES NICKY Y QUIÉN ES ALEX OOOOOH NOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

na hora, até pensei em ficar irritada. mas logo todo o ódio em potencial explodiu numa gargalhada, que deu origem a outro pensamento: é por isso que eu nunca vou conseguir levar meu tio argentino a sério.

20070616

sobre as lulas-gigantes

a architeuthis dux, a maior de todas, pode alcançar em torno de 22m de comprimento total (isto é, do manto até o fim dos dois tentáculos) e seus olhos podem ultrapassar o tamanho de uma cabeça humana. é a minha preferida, e também uma das candidatas à inspiração para o kraken da mitologia - tanto nórdica quanto grega -, resgatado agora recentemente pela trilogia de filmes piratas do caribe. pessoalmente, a história vem de longa data - quando pequena, adorava ver uma enciclopédia dos animais que tinha muitas figuras da lula-gigante (esta a architeuthis princeps) a enlaçar-se com os cachalotes, atacando navios e engolindo barcos. desde então, tenho um misto de fobia e amor por elas; desespera-me e fascina-me pensar em encontrar alguma por acaso um dia enquanto estiver nadando em mar aberto, o que certamente é bem possível. MAS TRIXIE, disseram-me, as lulas-gigantes, primeiro de tudo, gostam de mares gelados!, e segundo, elas vivem nas profundezas! ao que respondi: pois sim, muito bem, mas nada garante que eu vá viver no brasil pra sempre, e, como desconfio que eu sou uma das únicas pessoas (não-biólogas) do mundo que acompanha as notícias sobre lulas-gigantes, presumo que não seja ainda de conhecimento geral que YAH, AVISTARAM LULAS VIVAS NA SUPERFÍCIE! no japão, mas avistaram. e então?


e então que elas são lindas!


são tão lindas que estes dias passou no discovery channel, às cinco da manhã, um documentário sobre a busca de cientistas japoneses por ao menos algumas imagens de uma dessas criaturas vivas. e eu, claro, fiquei ali pra ver se ia resultar em algo.


é esta a melhor foto depois de muito esforço, conseguida com uma câmera que disparava flashes de 30 em 30 segundos, presa numa linha que descia a 2km da superfície e continha iscas feitas de outras lulas menores. o que aconteceu foi que a lula, ao apanhar as iscas com um de seus tentáculos, ficou presa e lutou durante horas a fio tentando se desvencilhar. não conseguiu, e deixou para trás o tentáculo que ainda se remexia, para deleite dos cientistas. mais fotos no national geographic.
nem preciso dizer que amo retratá-las, e fiz praí mil desenhos, aquarelas e até grafite em muro com lulas-gigantes e variações. temo pelo dia em que sairão do mar, revoltadas e desenvolvidas, para utilizarem seus poderosos oito braços e dois tentáculos - com ventosas providas de dentinhos que se agarram à pele - para trazer aflição aos humanos. o bico, comum aos cefalópodes, seria para lentamente rasgar a carne dos membros, fazendo a agonia se prolongar o máximo possível. então, é a vez das entranhas serem sugadas até restar a carcaça oca, onde seriam depositados os ovos. depois, o ninho hospedeiro seria lançado de volta ao mar para que as pequenas lulas, quando eclodissem, tivesem alimento e nutrientes necessários para romper o casulo que costumava ser humanóide, numa explosão de braços ventosados no fundo do oceano (um processo bem típico do micromundo que temos aos nossos pés, diga-se de passagem).

such a pretty sight.

mas voltando ao básico, só a estrutura dos cefalópodes é intrigante. cefalo - cabeça, podos - pés. os pés que saem da cabeça! o manto que têm logo acima não é só um prolongamento (com nadadeiras, no caso das lulas), mas sim uma espécie de tronco, que guarda toda a massa visceral e fluidos sexuais. lembro-me bem disso da vez em que dissequei um polvo no colégio, acho que no segundo ano do colegial (ou ensino fundamental II, como queiram, eu prefiro os nomes antigos) - todo cuidado era pouco, e tive de bolar um esquema de abertura para que não começasse a vazar e não estourasse nenhum órgão lá dentro com o bisturi. comecei quase pelas laterais, o polvo deitado, abrindo uma tampa que ainda se juntava ao corpo na altura dos olhos. os intestinos ficam à volta, o estômago no meio, os órgãos sexuais perto da cabeça. mas melhor que isso foi a lembrança que consegui - um tentáculo em álcool todinho para mim.
penso que uma lula não deve ser assim tão diferente por dentro, com a única diferença de ter um manto mais resistente, com uma pena e tudo, não molenga como o do polvo. enquanto não arranjo nenhuma para estudar, vou pesquisando o que posso, fantasiando as lendas dos marinheiros antigos e reproduzindo imagens da lula em situações inusitadas.


(e se a cidade acordasse um dia para descobrir uma lula-gigante morta nas ruas, os braços ainda vivos, aparecida em algum momento daquela madrugada?)