20070731

ciclope castanho das grutas montanhosas de kukukuku



aquarela/papel de origami

20070724

mudei de idéias

aqui vai uma reclamaçãozinha sobre o acidente em congonhas: por causa disso, meu livro surrealism and painting (andré breton) vai demorar, em média, quarenta e duas semanas para chegar.

20070722

achei isto hoje:

e ainda me escrevem nietzsche errado.

martelo & cinzel

o binhas começou - E se a realidade fosse algo fantástico, muito além da matéria crua e da rocha dura? (...) Quem sabe, nos faltem apenas os instrumentos do escultor?
nunca havia pensado nessa metáfora, mas parece servir bem. temos sempre diante de nós um bloco de rocha sólida, aparentemente impenetrável e imutável (e não estou falando só dos obstáculos típicos da vida, mas principalmente também de mistérios universais, todas as verdades que achamos que sabemos e o que não sabemos que não sabemos) - é mesmo demasiado parecido com as minhas aulas de escultura. sabendo escolher os serrotes, cinzéis, grosas, limas e lixas, aproveitar todas as possibilidades da pedra e por onde começar, depois de uns dias aquilo deixa de ser um pedaço de matéria inorgânica para tornar-se o que quisermos. e as possibilidades são infinitas.



mas não adianta de nada ter os instrumentos certos se a princípio tudo o que se consegue visualizar é um bloco de rocha sólida...

20070721

harry potter & a outra dimensão

confesso que, como é desde os onze anos de idade, tou ansiosa pra ler harry potter de novo. que bosta. da última vez, há dois anos, passei duas madrugadas inteiras lendo o half-blood prince em inglês no microsoft word. tinha alucinações, meus olhos secavam e se enterravam nas órbitas, mas eu não parava. não - a integridade de um obsessivo não pode ser ferida, então, se comecei esta ladainha aos onze anos de idade, tenho de terminá-la aos dezoito com a mesma dignidade de antes. ou seja: hesito entre ir agora mesmo comprar a merda do livro ou abrir o arquivo em pdf que acabei de receber. ia ao lançamento na fnac ontem às oito da noite, mas... ah. a noite não estava propensa a programas mais longos que o caminho até a padaria e outro maço de cigarros.
isso porque tinha de estar trabalhando nos cem desenhos de observação que tenho de entregar quando as aulas voltarem. só que mais uma vez, com um golpe de sorte no meu grande rabo, a data de entrega foi adiada e posso aproveitar mais um bocadinho os últimos momentos de férias ociosas, em que fazer testes estúpidos e ler harry potter significa o mundo todo.
enquanto isso...

(17:32) (li) Lord Gabe MacArthur: a cada minuto que vc ficar fora, é um spoiler
(17:32) (li) Lord Gabe MacArthur: snape é o novo diretor de hogwarts
(17:33) (li) Lord Gabe MacArthur: o harry perdeu um braço

o resto não li porque fechei a janela em desespero. mas depois fiquei sabendo que só cinco dentre os muitos que recebi são verdade. o harry perdendo um braço seria empolgante! e todo mundo tem que morrer pra essa merda não ter possibilidade de continuar. a não ser que me apareça a j. k. rowling com harry potter & a outra dimensão.


sim, sou alienada e não vou dizer nada sobre desastre em congonhas, nem morte de acm, nem exposição de cartazes produzidos durante o período de greve da faculdade. já vi e discuti o suficiente sobre estes assuntos, e, lamento imenso, este blog não é sobre a minha decepção com o país em que vivo. o silêncio aqui não tem papel de vista grossa, mesmo eu não tendo talento algum para politizadora e militante das massas oprimidas - eu só acho as notícias tão absurdas que seria redundante ficar apontando e lembrando como estamos na merda. não quer dizer que não tenha opinião sobre nada disso. o silêncio é só o meu cansaço. eu não acho que posso mudar o brasil. algumas pessoas nascem pra isso, vivem, morrem, mas não eu; falo aos eternos deslumbrados com a vida e o mundo, que sabem ser completamente inúteis para mudar as estruturas concretas - concretas: ainda há o objetivo de sensibilizar - das coisas e fascinados demais com tudo para sequer tentar fazê-lo. eu sou do tipo que conta as histórias, fantasia, fabula, pinta e colore, não importa se é feio, se é grotesco, se é desesperador. tudo é sentimento, e belo por isso. sou do tipo que leva a vida como ela me leva, decisões que vêm de impulso e entranhas, nunca nada verdadeiramente racional, sempre apaixonada pelo que me acontece pelo caminho, mas sem realmente saber como cheguei lá. mudar a história não é comigo. prefiro falar de harry potter.

20070717

soslaio


a despeito do que diz O Desenhista, que é uns anos mais novo que eu, não consigo dar ouvidos às auto-críticas sem pensar Mas foda-se, isto é muito mais cheio de sensibilidade do que os rabiscos de diversos colegas de faculdade por aí...
e recorda-me um passado próximo (embora não pareça), em que a angústia surgida ao desenhar, ao fazer cada traço, transparece nas expressões duras e contraídas -- o medo.

20070715

tesourinho

20070714

caderninho da faculdade, I

porque sempre foi impossível só anotar e olhar para o professor.



de h.p. lovecraft. começou com um rabisco tosco na aula de mídia I; feito com canetas esferográficas pilot 0.5, uma preta e outra vermelha, e uma espécie de giz laranja.


impressões digitais. desenhei salvador dalí no indicador esquerdo e carimbei a aula de semiótica inteira - afinal, são signos indexicais E icônicos.

20070713

on set

a uma dada hora o tédio vence os limites. nem as conversas com as pessoas ao lado, todas novas e também tão sozinhas, distraem a impaciência de quem acordou às cinco, quatro da manhã só para estar pontualmente às sete no edifício ondulado que possui uma sociedade própria - os copanenses não têm de pisar na rua nem para emergências podológicas.
mas as galerias criam uma corrente de ar que percorre às voltas todos os corredores, e as cadeiras de plástico foram se amontoando num beco onde não havia silvos nos ouvidos. entre dormidelas, cochilos e roncos seguidos de um despertar assustado, só eu me recusei a sequer fechar os olhos por mais de dois segundos para sentir que estava realmente precisando de sono. ao invés disso, puxei uma folha, um lápis 2b, uma caneta esferográfica preta pilot 0.5 e uma lapiseira infantil de pontas coloridas. ela encostada ali era uma daquelas que não se sabe se é demasiado nova ou demasiado velha, e dormia tão tranquila...






disse a ela que não podia dá-lo porque ia usar na faculdade, mas era só o ciuminho com tudo o que faço para mim. ela estava dormindo...
ao fim das filmagens, pediu-me se podia pegar outra vez o desenho. só para mostrar ao pai. abri minha mochila contente por ver que ela tinha mesmo gostado. pegou a folha, olhou ainda um instante e virou ao pai.

- sie *(@#&(*& YE*(W8e2#@¨ *&(!¨ EWYEY*)(@ @*( )_(_))()&*)(#@¨ #*@¨# (@)*@)$*@ *_REUQU() EJJU)U@)(.

e ele respondeu:
- &$#&UEWO2980 YDwW)(EU #@*(&(#@& YR*(EWYE *(@&(#@!

oh deus, são alemães!

acho que se não tivesse mudado de idéias e oferecido-lhe o desenho, ia sentir um mal estar e qualquer coisa incompleta toda vez que olhasse para ela, dormindo encolhida em seu casaco vermelho desbotado, os cabelos de ouro cinzento caindo pelos ombros, o rosto sereno e os olhos fechados que na hora não havia como ter percebido serem tão azuis. talvez nunca mais a veja, mas ela, ao menos, sempre que encontrar por acaso o pedaço de sulfite vai-se lembrar de que alguém a viu - e encantou-se.





(ha é, como foi? sussa. minissérie de treze capítulos, alice - nome provisório, sim, inspirado em alice no país das maravilhas, quem diria?, mas com uma história urbana e caótica. vai ao ar ano que vem pela hbo, o que filmamos foi o piloto. diverti-me o dia inteiro com os novos colegas feitos na hora, e dois deles não só sabem quem são os mars volta como foram ao show de 2004. malditos. figurante é meio como um rebanho, a pastora indica-nos o caminho, os cães nos cercam, latem e botam uma pressão, fala mais baixo! sai daí, idiota, vai aparecer no quadro! fiz duas brilhantes atuações, uma em que paro e vejo a vitrine do brechó, e outra em que acendo/fumo/fumo/apago o cigarro - foram quatro takes, não sei qual vão usar. e que acabou por ser o menos relevante das doze horas que passei com o pessoal da produção: os setenta reais de cachê. quase que fui-me embora sem receber, juro. mas claro que fiquei feliz com o dinheiro, e saí de rolê com os amigos logo depois pra já gastar uma cota.)

av. paulista, 01.00

- MOÇA...
- o quê?
- olha... a gente pode falar com você um pouquinho?
- ...desculpa, tenho de ir para casa!
- mas é só um minutinho!
- são uma da manhã, sério mesmo, tenho de ir, tão me esperando.
- não! ouve só, ...que isso, que isso, tá com pressa por quê?, não precisa!





(gelo no estômago)




- eu tenho de...
- não precisa se apressar não, senão a gente vai ter que te machucar. ouve só, se liga na idéia, a gente só quer dinheiro! e o celular.




(as moedas no bolso!)



- olha, eu só tenho isto.
- e o celular?
- não tenho celular!
- valeu então, tia.




NENHUM NÓIA CAGÃO ME ROUBA A MERDA DO CELULAR, SANGUE BOM! TÃO TIRANDO? VÃO DAR O RABO PRA COMPRAR PEDRA, CASQUEROS DO CARALHO!
tão ligeiros, eles se acham, que nem perceberam a mochila de 20kg que eu carregava nas costas.

20070710

precisam-se de paulistanos mudernos

primeira coisa a considerar: a plastic dreams, balada ali quase na esquina da rua da consolação com a al. franca, é uma merda. ao menos a entrada valia também como consumação, caso contrário teria me recusado a pisar lá dentro por $10. oh well, nunca gostei de baladas na vida, acho um bocado individualista, mas era a banda da amiga do pedrinho, então vamos lá. a polý também estava presente e tínhamos todos tomado chuva. o cabelo dela, com quinze descolorações e mais históricos de tinturas que o meu, permaneceu resplandescente e secou de uma maneira tão bela que parecia arranjado. o meu claro que tomou vida própria.


esta é das minhas fotos preferidas da noite. só não me perguntem o nome da banda.

convém aqui abrir um parênteses:

(não, vocês não têm idéia de como realmente era a plastic dreams. é quase um clube GLS, mas sem ninguém nunca tê-lo definido - os gays aparecem por lá instintivamente. a música saltava de grandes sucessos pop para uns eletrônicos medíocres. tomei uma tequila, fui ao banheiro unisex mijar numa cabine sem porta. uma mulher-onça subiu no palco à frente do d
j e rebolava-se toda, os poucos homens heteros se aglomerando aos pés dela, até que um foi puxado para dançar também. ok, era um showzinho, movimentos obscenos eram mais do que esperados; ela enlaçava as pernas no pescoço dele e simulava sexo oral em diversas posições, as bichas gritando AAAAI QUE NOOOJO, ela o deitou no chão, tirou-lhe a camisa...



...e começou a masturbá-lo. até arrancou as cuecas, mas ele foi persistente e, cobrindo ali a região nobre, desceu do palco - pra tristeza dos gays, que até tinham começado a se empolgar abstraindo-se da presença da mulher.)

bem, depois de mostrar os seios tatuados, o show da mulher-onça acabou-se e nós fomos dançar a melhor música da noite até então, i can't get you out of my head, kylie minogue. távamos já meio bêbados e nem percebemos quando um tipo nos abordou. ele gritou um HEY, VOCÊS, e nós, NÓS?, sim, venham cá um instantinho. eu disse: porra, justo na melhor música da noite? vê se não demora, hein. quié?

- A HBO vai gravar uma série televisiva aqui no Brasil em pareceria com a Rede Globo, vocês não estariam interessados em ser figurantes, por acaso...? Mas assim, não é só fazer parte de um bolinho, são papéis importantes, com close de rosto e tudo. Preciso só do nome, telefone e uma foto de vocês (que vamos bater agora).
- haaaa oook, hehehe, HBO, pois não? (e se for um golpe para tirarem os meus rins depois de anestesiada, toda essa parada de mercado negro, vou acordar numa banheira cheia de gelo e com talhos na altura da cintura, percebo logo! ou então vão me jogar numa sala com uma cama e uma câmera e filmar o meu estupro! mas e se for realmente a hbo... no brasil? por que no brasil? hmmm, muito esquisito pra ser verdade, e por que chamariam-me a mim?) ok, meu nome é beatriz oliveira, meu celular... é de campinas, não há problema?, o código é 19 e...

entrou uma mulher alta, esguia, toda elegante com uma câmera fotográfica profissional na mão e tirou-me uma foto de frente, os cabelos nem quero saber como saíram, depois da geração espontânea causada pela chuva. passei a duvidar um bocadinho menos. afinal, o que poderiam fazer com um nome, um número de telefone e uma foto?




mas hoje, quase dois meses depois, vi um número desconhecido no visor do celular. eu não atendo números desconhecidos - nunca. já basta a vez em que me ligaram de dentro da prisão. olhei de novo pro aparelho vibrando...

- alô.
- beatriz? é o vitor, aqui da produção da HBO, eu peguei seu nome, telefone e foto na plastic dreams, lembra-se?
- HAAAA SIIIIM...

resumindo: quinta-feira, dia 12, das 6 às 6, com direito a comida à vontade e o melhor de tudo - CACHÊ! vou ser uma jovem paulistana muderna que compra roupas em brechó. e aparentemente só ligaram a mim, meus amigos não vão.

chupem!!! e desejem-me sorte.




06:44AM

drácula vai dormir, antes que fique mais claro.

20070707

pedra sem pudores

e quando percebi já estava sozinha de novo, minha amiga foi-se na bicicleta com ele, como passageira, depois de uma rápida volta na praia à noite. medinhos ocasionais. santos!, estamos em santos!, dissemos o dia inteiro. mal nos incomodava a praia cheia, sentávamos nos bancos e as crianças gritavam, foda-se, é a praia, é santos. mas voltou tudo ao normal, sozinha pelas ruas de novo, aqui ninguém nunca está comigo. voltar para casa? ainda eram onze e meia, tinha levado a chave para justamente poder chegar mais tarde e não ter de falar alterada com a avó (aquela lá é bem capaz de me esperar acordada, todas as séries televisivas fazem-lhe mal, sabem). sem condições. fui andando, fumei um cigarro. quando cheguei quase na esquina do estrela-ouro, percebi que ainda não se passara muito desde as onze e meia, e virei subitamente a esquina em direção ao rockabilly.
pedi uma bohemia long neck e um hambúrguer com rúcula, tomate seco e mussarela de búfala. havia também uma tv de plasma widescreen, primeiro futebol, depois jornal da noite. às vezes é bom fazer as coisas sem companhia, pensei. os caras atrás de mim falavam de posições sexuais. mas quando eu vou comer uma mina... a cerveja deu uma lombradinha a mais, pensei que naquele instante minha amiga já devia estar na casa dele, e parei por aí.
mas a jukebox começou com bohemian rhapsody, e eu senti que aquele devia ser o grande auge da minha vida. ou o fundo do poço.

20070704

auf wiedersehen

vou-me embora para a baixada santista, a ilha do fim de são paulo, a beira do continente, onde tudo é mais barato pelos contrabandos no porto, vende-se erva fresca à calçada da praia e as horas passam mais devagar!

faz um bocadinho de mal à garganta, mas quem se importa?

20070702

what will you do when your suntan fades?

as pessoas passam a ser opacas com uma palavra errada, um gesto errado, o conjunto disso tudo ou de outra coisa. não importa, é inevitável. três ou quatro meses, isso sem contar o período em que estive longe, já foi o suficiente para acabar com toda a vivacidade colorida que me despertava tudo:
aquela é muito folgadinha, aquele sempre força demais nas brincadeiras, aquele é meio bobo, aquela é insegura e posa de extrovertida, aquele é virgem, aquela tem uma semi-rivalidade comigo sabe lá deus por quê, aquele só mente e se calhar está meio caído por mim, aquele é uma grande criança hiperativa, aquele é meio perdido, aquela é completamente sem-noção, aquele é demasiado ingênuo, aquele experimentou coca comigo e virou nóia na semana seguinte, aquele é um tarado irritante, aquele é um entrão (literalmente, meu traseiro reclama), aquele é preguiçoso e drama king, aquele é nervosinho e waaay too passional, aquela é meio porca, aquele, ah!, aquele com certeza não toma banho, aquele se acha todo cool e muderno e artista porque os pais usam drogas, aquela não se depila, aqueles todos não sabem desenhar, aquele é manipulador, aquela é individualista, aquele é frustrado, aquela é infantil ao extremo (inclusive no traço de desenho e gostos em geral), aquele é singelo e todo perdido num relacionamento com alguém de quem não gosta mais e ainda não se apercebeu, aquela é muito feia e fala de um jeito bizarro que eu não entendo, aquele não sabe disfarçar que me olha de cima a baixo, aquela acho que é muda porque nunca a vi dizer palavra alguma...
depois de escrever isso eu reclamo que sim, (quase) todos são de meu interesse, gosto igualmente deles mesmo criticando - mas cada vez mais me dou conta de como as pessoas me cansam facilmente, irritam-me, e as viagens todas que faço são no intuito de trocar tudo pra não enjoar seriamente de nada. conseguiria eu dividir a cama com outra pessoa durante o resto da minha vida, quando até a sua respiração, a sua presença tornar-se-iam insuportavelmente incômodas, como acontece às pessoas da minha vida? há tempos que ninguém concreto me faz brilhar os olhos.
às vezes sinto que nasci pra morrer sozinha, e esta idéia não me desagrada.