20071115

simple underwear for simple men



3:01.
- safadinha.
- hihihi aaai, klaus!


O QUE É ESSA ROUPINHA TRIANGULAR ESCROTA SURGINDO NA FESTA DO NADA?
O QUE É ESSE COWBOY PUNK NO BANHEIRO QUÍMICO?



...E ESSA VOZ???


começo hoje uma linha de produção de cuecas klaus nomi - com uma estampa de gravata preta à frente, borda também preta e, atrás, a célebre frase i'm a simple man. encomendem. não se esqueçam de dizer o tamanho.

20071104

sonho do dia quatorze

foi o terceiro consecutivo.

- por que você não escolhe o césar? irmão dele.

uma colina gramada. carolina e fellipe. não sei dizer se era dia ou noite.
a tamara, também?
à primeira vista aquela porta parecia ser de banheiro, mas não: era a casa de minha tia, onde vivo, e saía direto em meu quarto.

pause nisso.

um quarto de república. como o usual, é tudo muito escuro, as paredes amareladas, cheias de manchas de humidade e mofo. minha cama é a do canto, porque nunca consegui dormir no centro do cômodo. observo de outro canto minha colega a dormir, nua.
o que mais aconteceu naquele quarto?

voltemos à casa de minha tia.
os azulejos da cozinha engordurados, um cheiro pastoso no ar. ali no meio estava uma cobra branca, rija, forte, anelada, com a boca aberta escancarando as presas que gotejavam, a cabeça metida numa gaiola. em desespero, tentei fechar a portinhola para prendê-la ali, embora soubesse que ela não se moveria nunca mais. pus os olhos no canto logo à minha frente, e foi então que a revi.

a menina do vestido branco, ou o que um dia eu presumo que tenha sido essa cor. agora, já era amarelado, rasgado na bainha por ser comprido demais para a pobre criança. o estilo, da primeira década do século vinte. já encontrei-me com ela outras vezes, em sonhos e em vigília. ela se mostrou no mundo material só uma vez, quando eu contava com dez anos de idade. minha prima dormia ao meu lado. apareceu, ali, à porta, e o movimento dos braços dava a impressão de ascensão. o rosto nunca lhe vi: não me deixa, é sempre um borrão. naquela noite, chamou-me a atenção para uma nuvem negra que pairava em cima de minha prima. isto foi mesmo verdade. estava desperta e lúcida. e agora...

ela nunca havia falado comigo. as aparições foram sempre instantâneas, porque não precisavam de mais que isso - eu sabia ao que ela me queria chamar a atenção só por ter se mostrado naqueles milésimos de segundo. mas não desta vez.
ela me avisou, não sei se por palavras, que a cobra soltava um veneno no ar e que eu morreria dentro de pouco. e então ela realmente falou. sua voz era doce, e trazia uma rouquidão por tudo o que havia passado. mas era eu que não percebia ou a língua era estranha demais para ser entendida?

aquela menina...

supliquei-lhe vinte minutos, vinte minutos que fossem! só vinte minutos. ela relutou, eu soube que era porque não estava exatamente em seu poder dar-me vinte minutos, e ia tentar atrasar o máximo possível em meu favor. nisso, ela começou a falar de novo, e eu já sentia o tempo a escorrer. o que foi que ela me disse?
deixei-a e fui em direção ao meu quarto juntar tudo quanto podia para ir-me embora antes que fosse tarde demais. vi o resto das pessoas que moram comigo já de malas prontas, rindo-se, como se fossem viajar.

- e nem para me ajudarem a arrumar as coisas, eu fiquei tentando salvar a todos!
- ah, compreenda, eu entrei em pânico.

foram-se.
ódio e desespero borbulharam. olhava para todos os meus pertences e não sabia o que meter na mala. cega e rapidamente, escolhia uns objetos e tentava manter a noção de tempo, o que ficava mais difícil a cada impressão de instante.
esgotaram-se os vinte minutos. não sei se cheguei a sair da casa.


o céu mudava de cor como se dias passassem em segundos. milênios depois, resolvi retornar ao meu quarto: estava ensanguentado do chão ao teto, e a mala ainda aberta em cima da cama, com mais coisas do que suportava.

agh

ando frustrada.
tudo o que queria era ir-me embora daqui para um lugar desconhecido, com pessoas desconhecidas, onde eu poderia dar passeios anônimos e pintar em paz. toda esta gente me atrapalha a vida. não tenho muita paciência para interações a longo prazo. não tenho estabilidade para aguentar as mesmas caras dia após dia.
eu farto-me, e tão facilmente! a faculdade já não é a mesma: as férias esmagaram tudo. formaram-se os grupinhos e eu não faço parte de nenhum, com orgulho. nos últimos dois meses apareci por lá no máximo dois dias por semana (isso porque só tenho aulas de terça a sexta), sob pretexto de ajudar uma amiga minha que é sozinha aqui na grande cidade de são paulo. claro que, se eu realmente estivesse engajada, conseguiria acordar às seis da manhã para atravessar a cidade, mesmo em dias tenebrochuvosos.
não.
hoje não deu, fui com ela fazer a tatuagem no braço. hoje não deu de novo, o braço dela ficou imobilizado e tive de auxiliá-la em tudo. ah, ontem? ela acordou vomitando e cuidei dela. esta semana... torci o pé na escadinha do metrô, não consigo andar. quarta e quinta? haaa estava com uma tosse que... hmmm, amanhã não sei, a lela quer que...
eu poderia ter dito não, hoje vou ficar em casa, trabalhar e dormir cedo para ir à faculdade amanhã a ela várias vezes que me ligou, mas a culpa por deixá-la sozinha e a minha própria fuga me impediam. e como demorei para aperceber-me que não consigo viver assim, em conjunto... comecei a enlouquecer. se eu não tiver ao menos metade do dia - de preferência a noite e madrugada toda - inteiras para mim, para os meus pensamentos, estudos e coisas que só a mim dizem respeito, sem presenças humanas incômodas, não consigo fazer nada que preste. não consigo me organizar.
(mas a lela tem agora um namorado. já não me sinto com tudo nos ombros caso algo aconteça...)
aqui em casa somos em quatro, contando comigo, e cinco se contarmos a minha "prima" (BEM entre aspas) que vive uns andares abaixo. à noite, ficam todos felizes em frente à tv, conversando e desligando o cérebro de tudo. eu termino meu jantar, tiro a mesa e fecho-me até o dia seguinte. não consigo relaxar. não consigo conviver com aquelas pessoas que, à exceção da minha tia, não fazem o mínimo esforço para me entender.
mas sempre vai ser algo complicado. quem disse, também, que os amigos entendem quando eu sumo por três meses, porque simplesmente tenho de sumir da minha vida?
espero amadurecer. do contrário, jamais vou conseguir um relacionamento e acabar por perder as amizades todas.

20071103

porcos! II

como assim de repente eu olho em volta e todo mundo é palmeirense?

20071102

porcos!

estou cansada de ser tratada como um pedaço de carne. de não poder respirar e sentir ânsia e mesmo assim continuarem. de falta de respeito, de carinho, de consciência de que sou um ser humano. estou cansada de não me ouvirem as necessidades, as dores, os prazeres.



se continuar assim, viro lésbica.

A Navalha perde o corte

apetece-me finalmente dizer tudo o que sentia, tudo o que acontecia dentro de mim quando visitava A Navalha, durante quase três anos. guardava tudo, porque sabia tão bem... e gostava de poder explicar. mas não - as palavras estão engasgadas, talvez com a dor de saber que acabou-se, talvez porque seja tudo tão intenso para a minha capacidade de verbalização.
já percebia o fim próximo. não importa quantas suturas, a um ponto é-se impossível continuar. e foi tudo tão belo que seria injusto de minha parte quaisquer resmungos: só tenho de agradecê-los por me terem conquistado semana após semana, enquanto viveu A Navalha.


eles me trouxeram de volta. resgataram-me de um poço de insensibilidade e deram-me vida outra vez. e isso, podem apostar, jamais será esquecido.

20071101

lembrem-se do cinco de novembro

e então começa novembro.
sempre foi, de longe, o mês mais esquisito do ano, em que tudo morre e apodrece. mas: já não foram setembro e outubro assim? o que devo esperar?
meu pé cura-se lentamente do torção três dias atrás, e o Escaravelho (porque ainda não dei-lhe um nome) já está quase pronto para trocar de peles, deixando a casca escura e renascendo azul dito turquesa.
- não, tia, é semi-permanente, dura muitos e muitos e muitos meses. e posso retocá-la.
ah, assim é de boa, de boassa, pois não?
- é bom que você tenha essa opção, essa idade de querer usar tatuagens... daqui a um tempo não vai querer mais. ah, também você jamais faria um BESOURO permanente num lugar tão visível, não é?

não, tia. ainda bem que sai quando eu morrer.

- não, tia.