20070906

because these handcuffs hurt too much

está decidido: vou continuar com a minha argola no septo até deixar de sentir que sou presa, confinada, enclausurada, escrava. é isso o que ela significa, principalmente por sua localização e agressividade, embora nunca tenha falado a ninguém. sei que nunca vou me sentir realmente livre. tudo o que eu queria era levar a minha vida em paz do meu jeito, sem fofocas dentre os membros da família, sem gente se machucando porque eu tenho o costume de sair e ficar acordada às madrugadas, sem dedos apontados para me dizer que sou anormal e desajustada só porque trabalho e me organizo de outro modo, sem aguentar humilhações e preconceitos ao jantar. se vocês artistas, pintores, músicos, já têm de saber pintar e tocar antes de entrar para a faculdade, por que vocês fazem faculdade? - ela parece se esquecer que artes e música são matérias só para crianças na escola. não as seguimos ao terceiro colegial, ninguém considera que pode haver um número mínimo de alunos que têm essa vocação, muito menos como coisa séria. como se tudo o que houvesse para aprender não fosse além deste primeiro contato que temos aos seis anos de idade! se notam alguém na classe que desenha melhor, oh!, ele faz os esquemas dos músculos com tanta facilidade, deve ir para biologia. se notam alguém que gosta de escrever, mandam-no para jornalismo sem ao menos perguntar se escreve dissertações ou poesias. artes? isso é para vagabundos. do mesmo jeito que há de se estudar química e todo o resto para entrar em química, os artistas têm de estudar química, todo o resto e mais música/desenho/história da arte por fora, o que acho que dá mais trabalho, não é?, do que simplesmente assistir às aulinhas que fazem parte do currículo escolar brasileiro, do que fazer administração pra tomar os negócios do papai. (apesar de que para mim estudar arte nunca foi realmente estudar.) as pessoas são cegas ao esforço e à coragem que é preciso para entrar numa faculdade de artes. é saber que ninguém vai compreender, ninguém vai achar legal, que todo mundo vai ficar desconcertado e dizer "mas no que você pode trabalhar com isso?", "mas o que você aprende em artes visuais?", achar que é só questão de boa coordenação motora, e pra que sequer uma faculdade, não é só saber desenhar?
vocês artistas não precisam saber de nada, só desenhar.
e é assim, não se pode esperar valorização, mesmo que estudemos uma diversidade até muito além do normal: afinal, é a tradução do mundo, da humanidade e de todas as suas coisas através paixão interna que move cada um. e viver assim, com gente que não entende que não dá pra parar no meio de uma pintura a guache para jantar (a tinta seca, perdem-se as cores na paleta, perde-se o raciocínio, TUDO), que não dá pra forrar o quarto inteiro com plástico para não sujar os móveis perfeitos sob medida, é tão claustrofóbico quanto ainda estar fechada naquelas quatro paredes da sala do colégio ave maria.
e enquanto isso, rebato meu tio:
- artista, pintor de parede, tudo a mesma coisa...
- engenheiro, pedreiro, encanador, tudo a mesma coisa.

7 xxx:

Anônimo disse...

já desisti, antes mesmo de entrar na faculdade (nem sei se vou conseguir, aliás) de brigar e discutir sobre isso. e eu te digo que eu sei exatamente como é porque aqui em casa as coisas são um pouco diferente, apenas.
no cursinho sempre tem "o que você quer prestar?" "vou fazer artes pláticas" "ah..." e eu noto aquele tom de tipo, "pra quê? que inútil". as pessoas são ignorantes e fazer o quê? não tem o que fazer.
só lutar por essa liberdade que você mencionou, pra que a gente seja feliz com os nossos ideiais, fazendo o que nós achamos que é certo e que vale a pena (as artes, ao invés de adm, por exemplo) e deixando um grande foda-se pro resto. por isso eu sempre discordei quando meu diretor do teatro dizia que o papel do artista é criar a arte para o público, para o outro. pra que eu vou criar alguma coisa pra esse tipo de gente? ninguém merece.

Beatrix Miranda disse...

PODE CRER. chupem minha buceta! essa gente não merece meu esforço.

balela. você pode até atingir outras pessoas, mas quem não tem o desconforto, a angústia dentro de si, a ânsia de vomitar coisas que nem você sabe o que é, jamais consegue ser um bom artista. do contrário, seria só decorar todas as regras de proporção, perspectiva e tudo o mais, tá tudo teorizado já bonitinho, e pegar encomendas povão afora. e olha que há muita gente que DE FATO faz isso.
mas bem, não é justo, preciso reclamar também em outro post dos próprios artistas - algumas vezes eles são os grandes culpados pela inguinorância do público.

Anônimo disse...

não consigo pensar assim. as pessoas são ignorantes por natureza. do mesmo modo que um artista tem uma ânsia natural, o carinha que pertence ao povão (povão no sentido de pessoas que só querem saber de cervejafutebolfilmesengraçadosemimimi) tem uma ignorância natural. eu sempre pensei em essência. como se as pessoas tivessem uma essência, sabe? que não muda e raramente evolui. não consigo acreditar que a ignorância de uma sociedade inteira possa ser culpa dos artistas, porque as pessoas (a maioria delas, fato) não estão nem aí para às artes. e o que a gente pode fazer? arte é pra quem quer arte.
eu queria poder discutir essas coisas com você, tipo, pessoalmente. sentar e conversar. preciso muito disso. to cansado de pessoas idiotas que não sabem de nada e que ainda querem dar lições e o caraleoaquatro. quero muito entrar na faculdade :**

Beatrix Miranda disse...

mas então... o problema, di, é que mesmo na faculdade de artes pelo menos a metade NÃO é artista. mas, formados como tal, têm o direito de denominar-se assim. e é aí que começa a merda...


espera só que um dia pego o trem e vou a jundiaí.

k disse...

artes, letras, filosofia, enfim, artes liberais em geral são fruto de olhares bizarros a torpe & a direita. devia ser parte do vestibular um teste psicológico pra ser se a pessoa suportará os efeitos, né?

perdi a conta de quantas cenas presenciei & participei em que alguém dizia cousas como "mas pra quê estudar letras/artes/filosofia? eu estudo XYZ e posso ler/pintar/pensar no meu tempo livre! gente que precisa estudar isso pra poder fazer é, bem, blablabla". como se!

e os alunos de música, que angústia. como se talento (wtf?) fosse tudo & nascessem os coitados com um piano pregado no rabo.

porque eu, você sabe, nasci com uma caneta bique entre os dedos.

pffffff.

Beatrix Miranda disse...

né? imagina! os artista de verdade, de verdade mesmo, nascem com um pincel como prolongamento da mão, nunca têm de fazer esforço pra nada - é assim, espontâneo. pra que faculdade? só desvirtua.

e sabe de uma coisa? mesmo na minha classe há gente que pensa seriamente que é mais produtivo desenhar a maior variedade possível de coisas, para supostamente aumentar o repertório, do que trabalhar com paixão, demorando-se em cada objeto de estudo, penetrar nas profundezas para descobrir e redescobrir o que já achávamos ter resolvido em nossas cabeças, perceber sutilezas que não são visíveis de outra maneira. ACREDITA? eles acham que, só porque a arte moderna veio para quebrar com padrões, qualquer coisa, qualquer rabisco é aceitável e até mesmo valioso desde que você tenha um diploma para falar que há algum tipo de base por trás daquilo. bullshit. os 00s e a odiosa mentalidade descartabilista... o que fazemos, hein?

Alexandre Selliach disse...

sério? o.O