20080126
20080123
03 .10 . 06 - 22 . 01 . 08
20080117
sonhos
08.01.08
tatuando o antebraço esquerdo INTEIRO com flores. meu escaravelho não existia. arrependi-me ao meio do processo.
09.01.08
eram cinco da manhã. rivalidade(?). mamã fez gelatina com ingredientes estranhos para alguém, eu fiquei com ciúmes e a mandei fazer não sei quê. muitos meios-irmãos. um dia, cheguei em casa (de minha tia) e estavam todos contra mim e um irmão menor - acho -, esperando com uma emboscada. eu tomei a dianteira para lutar e protegê-lo. eles haviam convencido uma meia-irmã que sempre foi sussa a se voltar contra nós também, mas eu sabia algo de importante sobre eles que me dava vantagem porque havia ouvido sem querer noutra ocasião (sonho). guerra, guerra, guerra. peguei as pedras do volpi (meu labrador de campinas que tem a mania de pegar as pedras do vaso e deixá-las pelo chão) para jogar nos meus meios-irmãos, atiraram-me tachas na nuca com uma máquina. senti cada uma delas entrando surdamente e se alojando perto das minhas vértebras. caí na entrada do corredor.
- enquanto tou caída é covardia!
momento de suspensão. eu me levantei rapidamente e peguei muitos talheres pra me defender, planejando jogá-los. uma meia-irmã veio pegar um garfo e uma faca da minha mão pra comer a sobremesa, ao que gritei EI!, e depois - ha é, você tá do nosso lado né, sempre. - YAH mas não conta pra eles.
eles = um menino e uma menina.
até que vieram todos do nada pegar meus garfos e facas pra comer sobremesa, e eu HÃN?, como, sobremesa, agora?, até que só sobrei com talheres de plástico ridículos.
- ok, isto é estúpido, devo estar sonhando.
16.01.08
uma sala gigantesca com piso de calçada, no que me parecia uma situação pós-apocalíptica de alguma espécie - carteiras viradas, objetos e ferramentas improvisados com outros objetos, e, ao meio, uma grande caixa cercada que servia não para proteger o que estava dentro - e sim os que estavam lá fora. todo mundo assustado, vozes chorosas, lamentos. uma pessoa ou outra às vezes me vinha perguntar se podia abrir a caixa, ao que eu lhe respondia energicamente:
- não!, e já expliquei MIL vezes o porquê! daqui a um tempo vocês estarão comendo os cérebros um do outro, é inevitável, e você AINDA quer abrir a merda da caixa? ora, por favor!
a pessoa calava-se, abaixava a cabeça e ia andando. num canto da sala estavam minha mãe e meu irmão, ele nadando numa pilha de lixo a emporcalhar-se todo, e ela gritando que ele ia ficar muito sujo.
- bia, o que faço com seu irmão? ele não sai daí, essas manchas depois...! E AS POMBAS?
olhei para o lado. as maiores pombas que já vi na minha vida, com mais ou menos um metro de envergadura, voavam e enfiavam a cara num outro monte de lixo enquanto batiam as asas com sofreguidão. estavam todas feridas, ensanguentadas, com as penas meladas e duras.
chegamos a comer os cérebros?
dentro de um carro, com a mãe também.
- não, por aí NÃO mãe, olha a porra da briga de skinheads ali à frente!
muitos rostos retorcidos, carecas e mais sangue. um deles se jogou no capô do carro.
encontrei, depois de 9 anos, um menino insuportável com que fazia catequese no patronato são francisco, e com quem nunca tive o costume de conversar - o caio.
- bia, quanto tempo!, a gente precisa fumar um e trocar idéia um dia desses.
- ha yah... (será que tenho tanta cara de maconheira assim?)
as termas! vapor imenso. estava eu lá me segurando na beirada de uma cachoeira artificial altíssima quando resolvi me soltar. qual não foi minha surpresa por não ter caído durante minutos pra depois atingir a água... e sim escorregado pra sempre numa ladeira de conchas gigantes sobrepostas (com o lado côncavo pra cima, de modo que cada concha era um escorregador curvo individual) dentre as muitas pessoas que ali se equilibravam, todas olhando pra mim confusas, a perguntarem-se - quem é essa idiota que nunca veio cá e faz tudo errado? olha o jeito como escorrega! tsc.
olhei para a vitrine e os papeizinhos empilhados com precisão no canto. não vou deixar meu telefone colado ao vidro, por mais que peçam. lá dentro, uma menina muito magra, cabelos loiros ondulados tão sujos que haviam endurecido numa posição não muito natural, pele morena manchada. ela fazia sinal com a mão para eu entrar na loja, eu estava com pressa e ignorei. ela começou a bater na vitrine e apontar para a pilha de papéis, pedindo para eu deixar meu telefone. mal virei-me e dei dois passos que já a vejo fora da loja, furiosa, agora sem o reflexo do vidro na cara: o seu olho direito era inteiro branco.
- EU TE DISSE PARA DEIXAR O NÚMERO DE TELEFONE!
agarrou-me pelo pescoço numa chave de braço e começou a bradir ameaças com o que parecia ser um dildo de vidro muito comprido, um dos lados espiralado como um cabo. as ameaças viraram grasnados (o hálito putrefato), o cabo do dildo quebrou-se ao meio. ela me soltou e desapareceu no ar.
...
- darling, you don't want to miss lunch!
abri os olhos, virei minha cabeça e minha tia estava ali parada no meu quarto. já deviam ser mais de 1 da tarde, eu havia acordado às 11, dormido de novo e quase perdido a hora do almoço. pensei meio segundo sobre a mania da minha tia em me acordar falando inglês e voltei a falar no celular com a minha mãe, deitada na cama, debaixo das cobertas.
- mas você não tava dormindo quando ela entrou aí pra te chamar?
- não né, só tava deitada aqui. agora deixa-me ir que preciso almoçar.
nisso, dormi outra vez.
acordei não sei quanto tempo depois, desesperada porque todo mundo já devia estar almoçando, ou terminado de almoçar, e eu não tinha conseguido sequer levantar. resolvi esperar um pouco dentro do quarto até meus tios voltarem para o escritório e eu comer em paz sem ninguém falando que sou preguiçosa. foi quando olhei para o chão e... vi ali meu cachecol que deixo no vão da porta com o chão quando a fecho, para saber se alguém entrou no meu quarto enquanto dormia e prevenir que certos odores vão para o corredor. estava como eu o havia deixado. no meio segundo em que apercebi-me que minha tia nunca havia entrado, nunca me chamado em inglês pro almoço, e eu nunca havia falado no celular... vem a empregada, francisca, bater na porta pra me avisar que o almoço estava quase pronto e meus tios iam chegar dali a pouco.
fui desperta pela minha tia e quando ela saiu do quarto eu voltei a falar com a minha mãe? claro que não podia ser realidade. também achava que realmente havia encontrado o caio. tenho mesmo de me habituar novamente a fazer reality checks, eles estavam quase funcionando.
20080116
20080112
PMS
tudo bem elas tomarem a sala e a copa e a cozinha com seus preciosos amigos, deixando-me confinada ao quarto desde a uma da tarde (são nove da noite), impedida de comer. pra isso eu não ligo. MAS COMER O MEU MIOJO BARBECUE HOT QUE EU TROUXE ESPECIALMENTE DE CAMPINAS?????
ISSO ME TIRA DO SÉRIO.
se tudo mais falhar...
...vou-me embora para ubatuba vender artesanato. ou então pra gringa, eles devem curtir uns trabalhos manuais brasucas - posso dizer que vem da favela ou do sertão. não, dos índios! se é que há romãs na flora amazônica, acho que não. mas eles não precisam saber disso. oooou, se souberem, digo que a imagem veio misteriosamente num ritual mágico de uma das tribos mais antigas do amazonas.
argila e tinta acrílica.
tags: cerâmica sonora, ocarina, romã
20080109
dreams that money can buy
aniversário com família é sempre loser. foi mais ainda porque os garçons do restaurante em que almoçamos vieram todos cantar parabéns com as luzes apagadas e um petit gateau, que dei ao meu irmão de bom grado. mas verdade seja dita: loser ou não, só queria que me deixassem em paz. felizmente o número de ligações diminui a cada ano que passa.
bom, depois do almoço fomos eu, ele e mamã à fnac, como é de costume. eu estava entre três dvds: diário de uma garota perdida, com a louise brooks, que nunca vi pra comprar nem alugar em lugar algum da terra; eu, você e todos nós, a que não assisti mas recebi recomendações extremamente positivas, e gosto às vezes de pegar coisas que não conheço; e... o volume 6 da coleção cinema avant-garde, de que já comprei o 5 (de oito).
por eliminatória, fiquei com o último.
essa coleção reúne longas e curtas desde os primóridos do cinema, no fim do séc. XIX, e atravessa o séc. XX com experimentalismos e vanguardas respectivos de cada época. o volume 5 me havia surpreendido; comprei sem conhecer nada do que ali estava, mas já o primeiro curta me prendeu a atenção - chama-se annabelle dances and dances, de 1894, um dos primeiros registros do cinema e o primeiro de dança. annabelle usa um vestido que possui prolongamentos na barra que se prendem a varinhas em suas mãos, e, conforme os movimentos treinados à exaustão, o tecido pode se transformar facilmente em asas de borboleta, movimentos espiralados e outros padrões. a má resolução e os efeitos primários de colorização só adicionam uma beleza etérea às cenas, sem contar a música de fundo que tem qualquer coisa de perturbadora. (obs. o link que deixei mostra só um pequenino trecho e com outra música.) mais pra frente, temos experiências com luz, filmes rodados ao contrário, efeitos de levitação e até um curta expressionista da queda da casa de usher, de edgar allan poe.
pensando nisso tudo, não era de se surpreender que também fosse gostar do volume 6. confesso, ainda não o vi inteiro - mas só o primeiro filme, dreams that money can buy, de 1947, já vale a pena sentar cá e escrever. o cigarro caiu de minha boca logo nos letreiros: direção de hans richter (um dada-surrealista), com a colaboração de max ernst. a música tem também a colaboração de john cage, um dos grandes nomes da música erudita de vanguarda. só para mostrar como o cara é importante, pensem que mesmo num curso de artes visuais aprendemos sobre ele.
max ernst? nem sabia que ele havia feito um filme! a atenção foi ainda mais aguçada. como já disse e vocês perceberam, o max tornou-se um pai para mim. não o único, mas o mais presente e influente nestes últimos períodos de minha vida. segue o filme.
sépia. em minha modesta opinião, é preferível a preto-e-branco. os tons de castanho têm algo fascinante. começam os devaneios de um artista, que de repente entra em contato consigo mesmo encarando seus olhos fixamente. sente-se pronto para então ajudar os outros a darem vazão ao que corre nas profundezas de cada um, claro, ganhar um pouco de dinheiro com isso. escolhe ser negociante de sonhos. o monólogo não é em absoluto complexo e impenetrável, muito pelo contrário. é enxuto e tão explícito que chega a provocar um pouco a nossa capacidade de compreensão. mas, como ficaria provado até o fim do longa, isso não é em nada um defeito.
até podia-se confundir com um filme noir: a voz da consciência em off, e o que parece ser um detetive em seu escritório. um pouco mais pra frente, no entanto, a coisa fica um pouco diferente quando vemos que só há a voz da consciência; as personagens encontram-se e têm diálogos em suas próprias cabeças. e o negociante de sonhos exerce sua profissão, olhando fundo nos olhos de cada cliente para perceber suas ânsias. os primeiros clientes são Mr e Mrs A. ela reclama que o marido não possui nem vícios nem virtudes. ela quer que seus horizontes sejam ampliados. e em então entra Mr A. nalguns momentos vemos flashes de obras de max como o romance-colagem uma semana de bondade, e o quadro o vestimento da noiva, como rápidas olhadas no que se passa na mente do cliente.
começam os sonhos - em cores. o primeiro, desire, é uma história de amor de uma calma furiosa, concebida por max ernst. uma mulher deitada numa cama vermelha sopra uma bola dourada, deixando-a chegar perto da boca para depois soprá-la mais pra cima, até que é engolida. a moça sorri e adormece. they talked about love and pleasure... a cenas se sobrepõem até que---- max em pessoa faz uma aparição negra e misteriosa como le president, tão sorrateira como onipresente, parecendo exercer um controle calado sobre tudo. o filme continua delicioso, com cenas surrealistas das mais variadas, e os diálogos em off. em seguida, temos girl with the prefabricated heart, um musical bizarro usando manequins, criticando os romances hollywoodianos e, ao mesmo tempo, glorificando e caçoando o feminismo. delírio de fernand léger, pintor francês. (pena que o trecho do link não mostra a manequim na bicicleta, que é a parte medonha.) e então chega man ray com ruth roses and revolvers, fazendo uma platéia imitar o que ia acontecendo no filme a que assistiam para mostrar a susceptibilidade do público. faz uma pequena aparição numa foto. e depois marcel duchamp com discs, que possui uma versão cinematográfica de seu nu descendo a escada, além de incômodos discos girantes que hipnotizam.
discs, de duchamp, com música de john cage.
alexander calder fica responsável por duas sequências: ballet, e circus. o último foi inteiro montado com objetos, que possuem uma estrutura que permite movimento, sem contudo serem mecanizados. adorável para pessoas como eu, que acham que objetos têm mais sentimentos que muitas pessoas por aí. este pequeno filme de 1961 com o próprio calder, le cirque, mostra bem o que quero dizer. narcissus, do próprio hans richter, fecha o filme com o sonho mais longo estrelando o próprio negociante de sonhos, que se torna o homem azul durante uma partida de poker. mostra o isolamento de que sofrem os artistas e, no contexto, a humanidade após a guerra. como as raízes foram cortadas, o futuro pode ser ao mesmo tempo excitante e amendrontador.
as falas não são as mais poéticas do mundo, mas para quê, com todas as imagens e sequências fascinantes que nos deixaram os vanguardistas? é escancaradamente experimental, mas quem se importa? tenho mais é de agradecer ao max por me ter encaminhado a essa pérola perdida no tempo. melhor presente de todos, max, obrigada.
(sim, é isso, eu não tenho dúvidas de que ele é meu mentor do além e enviou-me o filme de propósito.)