20080430
20080424
20080415
diga trinta e três.
parei com os fármacos há mais ou menos um ano. dantes, quando sentia que estava pra engripar, enchia-me de resfenóis vermelho-amarelo, eles se dissolviam sem efeito e dois dias depois passava, assim, ao tylenol (porque sou alérgica aos compostos de 2/3 dos remédios mais comuns, AAS e dipirona incluídos), quem sabe amoxilina e outros de que nunca vou lembrar o nome. nenhum deles me curava; ou era a tosse que permanecia, ou uma narina inutilizada, ou dores de cabeça, ou
não sei bem por que um dia levantei-me da cama e disse - Não vou mais tomar remédios. talvez fosse a preguiça ritualística. começar às cinco da tarde implica em repetir a dose às cinco da manhã. o famoso copo d'água que acompanha os comprimidos e cápsulas já não me era mais necessário, como é que se faz ao meio da aula, do trabalho, do cinema, que calham sempre com o horário de ingestão? pedir licença, vou arranjar um pouco d'água quebra os momentos. passava a ponta da língua nas glândulas, salivava mais que o necessário, levava o remédio à boca e pronto, já não sentia nada a raspar a garganta esôfago, e as pessoas todas olhavam - MAS ASSIM, A SECO?, com o mesmo tipo de choque de quando vêem que tomo café sem açúcar.
remédios líquidos são simplesmente estúpidos, apesar de agirem mais rápido, e xarope pra tosse é o auge dessa estupidez. excluam-se aqui tratamentos medicinais alternativos, tipo bebidas alcoólicas. detesto médicos, também. eles não sabem de nada. passam a faculdade inteira experimentando todas as drogas possíveis e depois quando se formam só fazem pedir exames de fezes, urina e sangue pra comparar na tabelinha.
Vejamos, senhor Meira, dores no abdome inferior, localizadas principalmente no lado direito... dores mais fortes ao mexer a perna direita, também? devem ser gases, está aqui um luftal, vá para casa descansado.
os enfermeiros são igualmente nojentos; erram sua veia sem cerimônias, começam a dançar a agulha dentro da sua pele, dor dor dor, vai inchar e arroxear amanhã, mas não importa, eles meio que riem-se dizendo - Haaa que veia fininha a sua, quase que não acho! uma vez, numa das minhas crises de intoxicação, meteram junto no soro um remédio a que sou alérgica e acreditem, uma substância nociva ao organismo por intravenosa é dez vezes pior que as aspirinas com seu AAS.
e os farmacêuticos que não sabem aplicar injeções? uma vez, tive de chamar a atenção da mulher pra trocar a agulha depois de utilizá-la pra perfurar a tampa da ampola com o antibiótico, ela ia me enfiar a agulha cega no mocotó. crianças, lembrem-se, quando forem aplicar a medicação ou dar um pico de heroína, sempre troquem a agulha. no segundo caso, não é nem por causa de hepatite e outras lendas urbanas, mas porque dói menos!
começo a contar também da epopéia do ciso, da falta de anestesia e hemorragia pós-operatória? se for falar de falta de anestesia também houve a vez em que fui costurar o queixo e... nah, deixa pra outro dia, junto com o meu problema no joelho que ninguém nunca descobriu o que é. chegaram perto, por um breve período disseram que era desgaste do menisco (com treze anos de idade, sim), depois vieram com uma certa história de instabilidade patelar, e rótulas viradas anormalmente não sei quantos graus para fora por conta disso. enfim...
azares meus com os profissionais da medicina ocidental à parte, logo depois que acordei e disse - Não vou mais tomar remédios, claro que tinha de adoecer pra conferir o tom irônico permanente da vida. passei quase dois meses a morrer, a arrastar, podre, com uma tosse gorda acompanhada de escarradas castanhas a cada meia hora. prontes, acaba aqui, sou tuberculosa, tísica, melhor começar já a editar os meus diários com tarjas pretas que o funeral não está longe, pensei. ao cabo dos dois meses o catarro clareou, a tosse rareou e desapareceu, e então:
eu nunca mais fiquei doente depois disso.
já agora; claro que tem a ver com alimentação, exercício físico e disposição mental. mas nem uma dor de cabeça de leve eu tive, sequer, e isso é bem estranho, considerando que eu estava SEMPRE com algum tipo de enfermidade, incluindo amigdalites preocupantemente crônicas, de terceiro grau, seja lá o que isso quer dizer. isso seria tudo muito bom, há mais de ano sem doenças, puxa, que sorte, e que sistema imunológico fortalecido, mas... -
mas.
como é possível que não apanhe mais nada? depois da nefrite de 2005, que foi quando eu realmente cheguei a pensar em cavar a cova e deixar por escrito a frase derradeira sintética da lápide, deitada na cama com uma quase-septicemia na noite de Natal, não tive mais nada tão grave. e como eu também, apesar de comer muitos vegetais e andar em média 10km por dia quando vou à faculdade (olha o contador de passos aí), não levo uma vida exatamente saudável, fumo tabaco e erva e bebo e de vez em quando me estrago um pouquinho mais, não é possível que esteja intacta, assim. a grande impressão é que tenho dentro de mim algo destruidor na incubação (que não seja AIDS que não seja AIDS que não seja AIDS que não s...), só esperando o momento perfeito de fraqueza pra se revelar. continuo com as minhas dorzinhas musculares e nas articulações, mas agora toda vez fica uma vaga dúvida no fundo da minha mente se seriam, de fato, dores de fadiga, se espontâneas...
ou coisas piores e mais complicadas.
mas claro, essa minha abstinência foi quebrada uma vez neste ano que passou, mas só porque eu não aguentava mais lavar o chão de vômito a cada vinte minutos. chegou no ponto em que o ato de vomitar passou a ser um orgasmo distorcido: eu sentia meu estômago embrulhar-se e contrair-se cada vez mais, tinha calafrios, até que numa série de espasmos ia tudo fora, e nos instantes seguintes meu corpo relaxava numa satisfação intensa, junto com calor e cansaço. depois de algumas horas só me restava mesmo a amargura da bile, como sempre me acontece nas intoxicações, e nesse dia tive de tomar um plasil para fazer cessar os espasmos. dois, na verdade, porque um voltou logo em seguida. e óbvio que outros casos vão pedir medidas semelhantes, mas o assustador, por enquanto, é que essa parte da minha vida, as enfermidades companheiras que eram tão presentes já não se manifestam mais. ao menos não de maneira aberta e sincera. há a possibilidade também de ter sido tudo somático, eu que odiava viver em campinas e o ambiente me fazia adoecer, mas ainda assim, esquisito.
a idéia de incubação acho que só vai embora de vez quando resolver ir tirar as teimas com um check-up - e talvez nem assim, porque, como já disse, não coloco minha mão no fogo por esses médicos do estado de são paulo (que outros não conheço).
20080413
"O romantismo é, talvez, a irrupção do eu, a busca do fantástico, do irreal possivelmente ligado à realidade de maneira misteriosa, o desejo de cores variadas, de sons distantes e encantadores, a confissão do que há de mais íntimo, a confraternização com a natureza, a união mística com o seu lado sombrio, o exagero de sentimentos e paixões, o mergulho na mística, na mágica, nos recantos mais ocultos da alma humana e das suas relações maravilhosas com o todo, o despedaçamento dos grilhões do costume, das convenções, o sacrifício em prol de um ideal, a busca de corações fraternais. (...) O romantismo é aquilo que não pode ser explicado a quem não o sente."
de: História Universal da Música, Kurt Pahlen.
20080406
IT'S ALIVE!
a orquídea eu arranjei num leilão da alta sociedade em que entrei de penetra. era arte pela amazônia, venderam por $6.000 um esqueleto de periquito dentro de uma redoma com uma base de madeira adaptada em caixinha de música - quando se dá corda o esqueletinho dança loucamente. fora as merdas conceituais de sempre que causam ao menos uma diversãozinha, o catálogo era, sim, interessante. mas mais interessantes eram o whiskey 12 anos e todos os petiscos (o maior queijo brie que vi na minha vida era servido quente com fatias de maçã verde).
a orquídea da foto está sendo desidratada neste instante para futuras experiências.
rabiscos no paint, que continua o meu programa preferido para web-coisas.
POTS
o meu blog nunca teve tantas visitas como estes tempos, graças ao senhor Marcus Grande Abóbora, que me citou num post. ironicamente, coincidiu com uma fase de poucas palavras que penso não atrair muitas pessoas. elas vêm e se vão logo em seguida. mas melhor: sinto que não tenho lá muito jeito para escrever a um público maior que dez pessoas.
semana próxima volto com os textos.