20071029

SCARAB

20071028

gatto, bacon, 2pm.

não sei que andei fazendo ultimamente. passei quantos dias fora?
amanhã, um símbolo de renascimento. talvez não dos mais agradáveis, dos mais gostáveis; ele anda pelo deserto com suas seis patas e uma bola de merda, que serve depois de abrigo para os ovos e alimento para as larvas, numa toca debaixo do chão.



quando é tempo, explodem milhões deles rumo a céu aberto e uma nova vida.

20071013

sonic wind

a maior prova de que talvez esteja passando por uma transformação radical não é a mudança da minha caligrafia, nem a aceitação do meu cabelo ondulado e do rodamoinho esquisito que tenho do lado direito da testa, nem a nuvem negra que anda a pairar sobre minha cabeça e a escurecer todo lugar a que vou, nem o fato de ter começado a lavar a louça e as roupas - mas sim um episódio ocorrido agora de pouco, em campinas, casa de minha mãe.
é primavera, deitaram um cobertor sobre a cidade e os insetos voltam ao convívio. havia assistido, ontem, no animal planet, a um documentário fantástico sobre os louva-deus, construído a partir de comparações cômicas (ao menos para mim). uma delas se referia às artes marciais pela maneira como movem-se as patas dianteiras de um louva-deus prestes a atacar: neste momento, fechava um close em um de seus olhos e aparecia ali refletido um china com expressões ameaçadoras. então, a câmera abria de novo e ele atacava um sapo, uma aranha ou outro louva-deus, e eu pensava estes bichos são mesmo incríveis, vieram antes de nós e vão dominar o mundo quando já não estivermos cá. SÃO LINDOS!
eu, que sempre fui acagaçada e extremamente suspeita em relação aos insetos, em destaque os que voam e saltam. eram um pesadelo em vigília, uma ameaça tropical. tinha a plena certeza de que isto havia ficado para trás, por que o medo?, são praticamente inofensivos para nós e tudo pode acabar com uma chinelada certeira. ou... um esborrifo de veneno. mas para quê?
a janela está aberta. ouvi um zumbido no ar e não demorei a perceber o vulto que circulava em torno da lâmpada do abajour. primeiro pensei num mosquito qualquer, mas aquela sombra e aquele zzzz pertenciam a um inseto de porte maior: um besouro. não era gordo, mas compridinho e castanho, um daqueles milhões que nunca vi na vida e que provavelmente não verei outra vez; até que aparentemente ele também apercebeu-se de minha presença e saiu da cúpula do abajour para um leve rolê pelo meu quarto.
talvez o pânico que me invadiu tivesse sido causado por estar minha pele sem proteção alguma (sim, estava nua) e sensações de patas pegajosas a caminhar pelas minhas costas e barriga e seios começaram a me atormentar. fugia dele de um lado para o outro, quase derrubando tudo o que estava à frente, numa cena ridícula. até que ele aquietou-se numa das minhas almofadas e eu percebi que era a única chance de vestir-me, correr à despensa da cozinha e agarrar no veneno.
ele não havia se movido. duas, três borrifadas e não mais que isso - ele atordoou-se. pude ver as antenas a moverem-se em desespero, oscilações incertas e confusas. senti uma pontada forte de arrependimento. finalmente desagarrou-se do tecido e foi-se deitar ao chão atrás da cama. corri para vê-lo caído, esperando os últimos espasmos de agonia do pequeno, mas não estava nada ali; devia ter ido parar debaixo da cama. ainda o ouvia. zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz. zzzzzzzzzzzzzzzz. zzzzzzzzzzzzz...
e o barulho cessou.
acabei com uma vida. mil vezes menor que a minha, mas ainda assim, uma vida. e quando, nestes meus dezoito anos, é que isso foi motivo para comoção? estou seriamente abalada e isto é sério - eu acabei com uma vida. matei desnecessariamente, porque perigo real ele não me oferecia. matei, e esta noite não consigo conceber como é que fiz o mesmo tantas outras vezes e segui em frente como se descartasse ao lixo um objeto de que já não preciso.

20071005

until exposed became my darker side

todos os dias de manhã acordo com esta música na cabeça, meto para tocar todos os dias incontáveis vezes. acalma-me? talvez. li num blog aleatório que a música, dos Bauhaus, não será estranha àqueles que costumam dizer que a tristeza é bela. não sei quanto a isso, mas é uma daquelas milhões de partes minhas espalhadas por este mundo em forma de música. cada pedacinho desses encontrado vem com uma nostalgia incômoda e angustiante, como se fosse algo perdido numa vida passada, apagado do mundo físico, mas que ainda sobrevive nalgum canto de mim; os acessos conscientes são bloqueados, e só a música tem o poder de despertar as lembranças. e que foi feito disso tudo? como posso regressar?

20071002

O Imperador




a carta de tarot.
aquarela, nanquim (tinta-da-china).
apesar de ter ficado dias a estudar e a preparar-me para pintá-la, só sentei para isso no sábado às nove da manhã - e terminei ao domingo pelas três da madrugada. não queria tê-la feito em um dia, de maratona, mas o prazo de entrega mudou e eu já tinha uma viagem de aniversário marcada. penso que saiu um pouco diferente do que eu faria no meu normal, mais colorido e alegre, menos preocupado, talvez. a impressão no geral é que o imperador em si merecia um destaque maior, mas acho que a paisagem à volta - a extensão de seu império, as pedras irregulares que são o seu apoio, os pés já petrificados ao solo - também mostram poder e rigidez.
os símbolos fixos: orbe, cetro, cabeça de carneiro (áries), trono. outros: águia dupla, sol, lírio, pedras e mais outros que nem eu ainda me apercebi.

calcinatio.

20071001

LELA



uma foto que tirei dela hoje, em santos.
dali a pouco ela virou vinte.

ai, pode?

prestar atenção no que me diz a vida às vezes não é má idéia. sabem que comprei um ipod vídeo em portugal há quase exatamente um ano (faltam ainda uns dias) e só consegui começar a usá-lo há menos de mês. cada hora era um motivo diferente: ou porta usb errada, ou falta de porta usb, ou problema com o itunes, com o cabo, tudo. quando finalmente acerto-me com ele, percebo todas as manhas e caprichos da pequena máquina, eis que saio com o cara metido no bolso do casaco às sete da manhã de sexta-feira, desesperada para pegar a aula das oito do outro lado da cidade. foi simples assim - entrei no ônibus, ele lá estava. saí do ônibus, ele já não estava. simples não, ridículo. irônico? considerando que quando cheguei à faculdade a aula das oito havia sido cancelada...
na hora mal acreditei. fiquei tão nervosa pensando que era um ipod VÍDEO meu deus, não podia perdê-lo assim, estupidamente, entrando e saindo de um ônibus. considero a possibilidade de ter sido roubada. e considero, também, não em menos peso, a vontade do próprio ipod. talvez quisesse mudar de dono, não gostava das músicas que punha nele. ou talvez nunca tenha gostado de mim. talvez outra pessoa seja assassinada por causa de um ipod que achou no ônibus um dia e agora deu um vacilo andando nalguma quebrada medonha de são paulo. talvez quem o achou era corretíssimo e não perdeu tempo em entregá-lo no terminal do ônibus!, e eu pensando que ele já foi vendido no mercado negro. fazer o quê; as coisas são assim.
eu não precisava dele. sempre tive aflição de fones de ouvido e parece-me que havia esquecido disso por um tempo. todo o isolamento bruto! o som é forçado para dentro dos ouvidos e abafa todo o mais que acontece. o problema não é nem sentir-me distante das pessoas - para isso não preciso de fones metidos nos tímpanos -, é sentir-me fora de conexão com o mundo em si, ter um dos sentidos vetados e os outros distraídos. confesso que gostava de vendar meus olhos por uma semana só pela experiência, ter de tocar e acariciar as coisas para perceber o que são ao invés de numa lançada de olho achar que sei tudo só porque aquela forma é-me familiar. mas isso é já outra história, não se aplica o cotidiano e envolveria também uma bengala, uma latinha de nescau vazia e uns dias de folga só para uns rolês de metrô.
nunca fiz amigos no ponto de ônibus quando estava ouvindo música.
menos uma coisa com que me preocupar. e eu já não reclamava que o quicktime tomou conta do computador e não me deixava mais ver vídeos no youtube? agora não preciso mais do quicktime! a vida sempre dá um jeito de resolver as coisas, é só perceber. por acaso, no dia anterior ao sumiço do ipod, eu andava na rua com um frio do caraças. tinha acabado de reclamar isso em voz alta quando olhei para o chão e vi um bolo cinza fofo. ah, um cobertor de mendigo. olhei mais de perto. não, tem mangas...
uma blusa masculina da khelf novinha, de... aquele tecido chique de inverno... cashmere, isso. uma blusa masculina da khelf de cashmere, jogada na rua, bem quando eu reclamava de frio, e nenhum homem à volta de quem poderia ter se desprendido.
os céus protegem-me do frio, tomam-me o pagamento sem maiores delongas.
e mais um dos objetos portugueses para o saco. vou lá riscar mais um item da listinha, gente. isto já ficou muito estranho faz um tempo.


observação: o título do post é babaca. do tipo de coisa que aqueles tios com barriga e bigode demasiado grandes falam quando bebem algumas cervejas a mais no aniversário de algum sobrinho, a cara vermelha, os cuspes generosos a cada algumas sílabas.

segunda observação: quem come fruta partindo os pedaços com faca é porque não tem dentes verdadeiros.